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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

revolução entre o místico e os negócios, o romântico e o racional

Walter Isaacson, entrevista NY Times (traduzida)





Walter Isaacson, o escritor da única biografia autorizada do Steve Jobs, lançado aqui no Brasil pela Cia das Letras, concedeu uma entrevista para o New York Times contando mais sobre sua história e processo criativo.
Segue a entrevista, com tradução livre:
NY: Quando você conheceu o Steve Jobs?
Eu conheci o Steve mais ou menos em 1984. Eu estava na “Time Magazine” e ele veio para o nosso escritório para nos mostrar o Macintosh original. Ele ficou falando sobre esses ícones na tela com uma paixão, dizendo que aquilo mudaria o universo. Ao mesmo tempo ele estava furioso com uma história que a Time havia criado, então eu vi o seu lado petulante também.
NY: Você concordaria em escrever a biografia do Mr. Jobs se ele estivesse vivo hoje?
Eu não sei. Eu realmente pensei que ele ainda estaria vivo quando o livro fosse lançado. Ele me convenceu totalmente que ele ficaria um passo à frente do câncer. Ele me disse três meses antes que ele estava fazendo um novo tratamento e que ele venceria o câncer mais uma vez.
NY: Quando ele discutia sobre seu futuro, qual seria o próximo produto que ele estava planejando?
Tinham três coisas que ele gostaria de reinventar: a televisão, os livros e a fotografia. Ele realmente queria pegar essas coisas. Eu não vou entrar em detalhes sobre esses produtos no livro porque está implícito nas criações da Apple e não é justo que eu os revele. Mas, ele falou sobre a televisão. Ele me contou que, “Não há razão para ter todos esses botões remotos complicados”.
NY: Antes você escreveu a biografia do Albert Einstein. O Mr. Jobs entrou nesta lista de “pensadores”?
Eu acho que Einstein está em uma órbita diferente. Steve está igualado à Walt Disney ou Pablo Picasso. Disney foi provavelmente o mais próximo de Steve. A verdadeira geniosidade destes homens é que eles foram capazes de criar uma conexão emocional com seus produtos. Bob Dylan fez o mesmo com a música; Picasso com a arte. Ele foi um gênio real que amarrou a arte, emoção e a tecnologia em conjunto.
NY: As pessoas dizem que Mr. Jobs foi um idiota. Ele foi?
O tema do livro é a intensidade e paixão que eram refletidos em sua personalidade que era parte integrante do Steve. Foi o que o fez capaz de mudar as coisas, inventar e fazer produtos maravilhosos. Ele pode ter sido julgado como um idiota por conta de sua bruta honestidade com as pessoas. Mas sua petulância estava ligada com seu perfeccionismo. Se ele fosse realmente um idiota não teria construído uma equipe da Apple que foi mais leal do que qualquer outros executivos do topo da América.
NY: Então foi sua paixão que o levou à petulância?
Absolutamente. Não foi apenas grosseria. Foi sua paixão que o levou a fazer uma ótima companhia e ótimos produtos. Ele estava profundamente emocionado com todas as coisas ao redor dele.
NY: Ele tentou controlar o que você escrevia para o livro?
Eu esperava isso, mas não aconteceu. Ele me surpreendeu insistindo que ele não queria controlar nada sobre o livro e por ser extremamente aberto e honesto sobre tudo. Eu honestamente fiquei esperando que ele acabasse com tudo no livro, mas quando mais a gente conversava, mais eu escrevia e ele ia me fornecendo mais, se abrindo mais, cada vez com mais emoção. Ele me encorajou a falar com todo mundo, inclusive seus adversários.
NY: Porque você acha que Mr. Jobs não deu seu dinheiro para uma entidade filantrópica?
Essa é uma das coisas sobre ele que eu não sei muito bem. Houve uma privacidade sobre filantropia. Eu perguntei para ele sobre isso, mas ele preferiu não discutir. Laurene, sua esposa, tem sido muito ativa no movimento de reforma na educação, mas eu nunca soube os detalhes de suas doações.
NY: Depois de escrever o livro, quem você acha que foi Steve Jobs?
Ele tinha muitas contradições em sua personalidade. Conectando uma contracultura, rebeldia, um desajuste sensível no mundo dos negócios e a sensibilidade de sua engenharia que o fez ser contradiário, mas que também o fez ser extraordinário.
Ele aproximou todos esses aspectivos de suas vidas em todas essas contradições: seu câncer, seus produtos e sua vida pessoal.
NY: Ele pode ser substituído na Apple?
Ele não pode ser substituído por uma única pessoa, mas por duas. Tim Cook é o cérebro do Steve. Ele é meticuloso, científico e empreendedor. Jony Ive é o artista, emocional romântico do lado de Steve. Ambos, juntos, formam um time incrível que se manterá unida de uma forma muito boa.
NY: A Apple pode continuar lançando bons produtos sem a liderança de Mr. Jobs?
Steve tinha o poder da magia do pensamento. Ele incluiu a possibilidade de inventar o futuro por “pensar diferente”, e ele dividiu isso com Jony Ive, que foi um parceiro real e de alma do Steve. Entre os negócios de Tim e o design de Jony, eu não tenho dúvida que a companhia vai continuar criando ótimos produtos.
NY: Bom, qual são seus próximos projetos agora que o livro acabou?
Eu estou voltando para o meu real trabalho. Eu voltei a trabalhar no Instituto Aspen, já estou aqui há oito anos. E estou envolvido em ensinar para a América.
NY: Você não fica preocupado de seu nome estar sempre “linkado” ao Steve Jobs?
Não, isso é passado. Eu tenho uma vida paralela. Steve foi apenas uma das várias biografias que eu já escrevi.
NY: Você publicou o livro antes porque você sabia que Mr. jobs iria morrer?
O livro acabou em Junho. Eu conversei com meus editores e nós não tínhamos uma data para publicação. Por isso decidimos definir como a data que Steve saiu de seu cargo na C.E.O, em agosto. O final do livro era diferente: ele acabaria por deixar a Apple. É claro que, depois, o final teve que ser mudado.
NY: Você está feliz com o resultado final do livro?
Eu fiquei espantado. Tem sido bem recebido. É claro que as vendas do livro não são por minha causa, são por conta de Steve. Ele me deu um enorme material e o livro foi quase escrito por si mesmo.
NY: Você quer dividir alguma última coisa sobre Mr. Jobs?
A principal coisa é: sua petulância não é algo isolado. Fazia parte de sua paixão pela perfeição. Eu acho que ele realmente sabia que, por estar sendo exigente, ele estaria sendo inspirador. Ele criou equipes incrivelmente leais. Ele convenceu pessoas que eles poderiam fazer o impossível e eles atravessariam paredes por ele. Como resultado, a Apple continua fazendo produtos ótimos.
Tudo que ele faz foi uma revolução entre o místico e os negócios, o romântico e o racional. E estes se amarraram em cada caso. Os dois lados e o fato dele poder se juntar à isso fez um produto maravilhoso: Steve Jobs.


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