Pesquisar este blog

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Segunda-feira: ame ou deixe-a

É meio unânime o fato de se odiar segundas-feiras. Todo o mau humor é desculpável nesse dia. Toda a reclamação é aceitável. Todas as coisas por fazer parecem piores neste dia que em qualquer outro. Se alguém aparece cantando e feliz logo é taxado de louco. Pois eis minha loucura: eu gosto de segundas-feiras.


Começou assim:

Sempre gostei de estudar, mas segunda-feira tinha aula de história e de português e de literatura, logo, um dos melhores dias da semana. Terça e sábado tinha filosofia no primeiro período, quer perfeição mais perfeita?

Quando entrei para a faculdade, depois de muito, mas muito estudo mesmo, eu o fiz para o curso de direito. Levei dois semestres e um mês para perceber nossa incompatibilidade epidérmica e chorava escondida por medo de fazer o óbvio. Isto é, ou eu abandonava o barco ou afundaria e passaria a vida afogada junto dele. Num desses dias, meu descontrole chegou aos olhos do meu pai e aí recebi minha primeira grande lição sobre segundas-feiras. "Duas coisas a gente não pode errar - disse ele - o que se faz ou com quem se está. Se você erra num deles, ou sua semana vai ser uma merda ou seu final de semana vai ser uma merda."

Lá fui eu seguir o sábio conselho paterno, embora, nem todos considerem assim. Há quem ache que minha continua busca por fazer apenas o que eu gosto seja uma porta para a depressão. Outros - quando reclamo - respondem com as pérolas: "a vida é assim mesmo"; "a gente sobrevive"; "às vezes, tem de se fazer o que não se gosta"; "tem que pagar as contas". É, tudo isso. Mas quem disse que tenho de me conformar? Quem disse que tenho de aceitar uma vida chata porque a vida "é assim"? Se eu aceitar isso, aceito o pior: a ideia de que a vida é coisa pronta, não em construção. Que eu sou coisa pronta e não em construção. Melhor morrer, digo eu. Não! (E farei uma Marcha sobre isso e sobre o direito à poder amar às segundas-feiras). Se não posso amá-las hoje, trabalharei o tempo que for para amá-las um outro dia. Enquanto trabalho, penso nesse dia futuro e amo ter segundas-feiras para começar a construí-lo.

Há algumas semanas, meu primo Vinícius disse-me algo genial: "As pessoas reclamam que segunda-feira começa tudo de novo. Não é bom poder começar tudo de novo?" Verdade. São os recomeços que dão sentido às coisas e não a continuidade, ou não só ela. Na semana em que ele me disse isso, eu estava preparando uma palestra sobre mitos e me foi impossível não associar. E, claro, lamentei um pouco o fato de, como humanidade, termos perdido a noção da real circularidade do tempo, dos ciclos de nascimento, morte e renascimento que nos comandam. A semana é apenas um deles. A gente morre no domingo à tarde, após as inversões do meio dia e dos seus excessos (coisas próprias de condenados), E renasce na segunda-feira.

Claro, os bebês nascem chorando, então, quer reclamar, reclame. Mas depois do choro inicial, criança choraminguenta é muito, mas muito chata.
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário