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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Muchacha (Laerte)

Considerado pelo próprio autor um graphic-folhetim, o autor de Piratas do Tietê afirma que sua “intenção não é mais fazer piada, e sim evocar sensações, idéias. Acho saudável dar um choque no leitor, estimular certa confusão.” Por isso que Muchacha não é linear logo de início, pois são, na verdade, diversas histórias interligadas.
Originalmente publicadas no jornal Folha de São Paulo, as tiras que formam esse livro são um mergulho cultural em direção à glamorosa década de 50 e no início corajoso da televisão no país. Laerte certamente é conhecido por seus personagens de fácil aceitação e pelo seu humor nada ortodoxo, como em Piratas do Tietê, Overman, os Gatos, entre outros. Porém, Muchacha representa uma nova fase em sua carreira, algo como ele mesmo define como mais filosófico e menos nonsense.
Na história, temos o Capitão Tigre e a misteriosa Muchacha, uma cantora de rádio. E também Sulfana, Milhafre, Lauro, Djalma e Carayba. Todos ligados diretamente a uma série de televisão, como se fosse uma novela dentro de uma novela. Laerte brinca com os leitores ao inserir romance, vinganças e reviravoltas dando certo clima de tensão, o que aumenta a sensação de que a obra é na verdade um grande folhetim digno de horário nobre.
A cada uma ou duas páginas, a história fecha e ao mesmo tempo se abre o que pode torná-la um pouco difícil de compreender, levando em consideração que Laerte o fez propositalmente, deixa a graphic-folhetim/novel ainda mais interessante e charmosa. Podemos encontrar Laerte inserido na história não só através dos desenhos dos personagens, mas também em algumas características psicológicas deles e é válido citar também, que em Muchacha ainda encontramos espaço para um novo perfil do cartunista, conhecido pela riqueza de detalhes em seus desenhos, passou a focar apenas no que era mais essencial (de acordo com entrevistas, devido a crises e problemas pessoais).
Muchacha surpreende por não ser óbvio, o leitor acaba viajando nos traços delicados e simples de Laerte e se depara com suspense, memórias dos tempos de criança e política. A cada nova página, uma surpresa. E ao final do livro, temos a participação de seu filho, Rafael Coutinho, co-autor de Cachalote, ilustrando uma aventura do Capitão Tigre, elevando assim esse graphic-folhetim/novel a uma edição de colecionador.



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