Carlos Heitor Cony
RIO DE JANEIRO - Vi no Canal Brasil o documentário sobre o 15º aniversário da morte do jornalista Paulo Francis. Bom programa, inclusive com o final wagneriano de "Tristão e Isolda", talvez seu trecho lírico preferido.
Ele foi um dos personagens mais instigantes de nosso meio cultural e marcou época na segunda metade do século 20. Eu estava em Roma quando ele morreu em Nova York e confesso que me senti um pouco perdido.
Foi o primeiro leitor dos originais de alguns romances que publiquei. Polêmico, às vezes contraditório e sempre brigão, tinha duas faces: a do intelectual superdotado, que se exaltava, odiando, como Horácio, o vulgo e o profano, e o homem mais do que educado e gentil, desses que raramente encontramos, que não existem mais.
O Luiz Schwarcz lembrou a amizade que Paulo dedicava aos amigos. Num fim de semana, sabendo que Jorge Zahar, doente, estava deprimido, tomou um avião na sexta. No sábado, apanhou amigos comuns (Ruy e Millôr) e levou-os a fazer companhia ao editor, que morreria pouco depois. No domingo à noite, embarcou de volta para Nova York. Passou um de seus últimos fins de semana integralmente ao lado de um dos amigos que mais admirava.
Todos os que tiveram sua amizade podem contar episódios iguais. Seu último jantar no Rio foi em minha casa, em companhia do Ruy. Levei-o ao hotel em Copacabana. Ao saltar, não se esqueceu daquela cortesia que quase ninguém usa mais: pediu que eu agradecesse à minha mulher o modesto jantar que lhe oferecemos.
Em 1965, oito amigos seus foram presos em frente ao hotel Glória. Ao saltarmos no quartel, Glauber Rocha apontou para a calçada: "Olha, o Paulo Francis!" Ele nos acompanhara à distância, solidário, temendo que fossemos maltratados.
Ele foi um dos personagens mais instigantes de nosso meio cultural e marcou época na segunda metade do século 20. Eu estava em Roma quando ele morreu em Nova York e confesso que me senti um pouco perdido.
Foi o primeiro leitor dos originais de alguns romances que publiquei. Polêmico, às vezes contraditório e sempre brigão, tinha duas faces: a do intelectual superdotado, que se exaltava, odiando, como Horácio, o vulgo e o profano, e o homem mais do que educado e gentil, desses que raramente encontramos, que não existem mais.
O Luiz Schwarcz lembrou a amizade que Paulo dedicava aos amigos. Num fim de semana, sabendo que Jorge Zahar, doente, estava deprimido, tomou um avião na sexta. No sábado, apanhou amigos comuns (Ruy e Millôr) e levou-os a fazer companhia ao editor, que morreria pouco depois. No domingo à noite, embarcou de volta para Nova York. Passou um de seus últimos fins de semana integralmente ao lado de um dos amigos que mais admirava.
Todos os que tiveram sua amizade podem contar episódios iguais. Seu último jantar no Rio foi em minha casa, em companhia do Ruy. Levei-o ao hotel em Copacabana. Ao saltar, não se esqueceu daquela cortesia que quase ninguém usa mais: pediu que eu agradecesse à minha mulher o modesto jantar que lhe oferecemos.
Em 1965, oito amigos seus foram presos em frente ao hotel Glória. Ao saltarmos no quartel, Glauber Rocha apontou para a calçada: "Olha, o Paulo Francis!" Ele nos acompanhara à distância, solidário, temendo que fossemos maltratados.
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