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terça-feira, 6 de março de 2012

Singing in the rain


Verona, Novembro 2002
Somos uma pequena amostra de mundo. Pelas salas da nossa discreta business school Milanesa, no meio da molhada estudantesca, pode-se encontrar um pouco de tudo. Um arquitecto Chileno, uma editora de moda de Madrid e um par de brokers londrinos. Dois engenheiros alemães da BMW, um economista Peruano, um Russo vendedor de Smirnoff e uma Dinamarquesa especialista em energy bonds. Temos também um italiano desenhador de motores de formula 1, um espanhol de Alicante importador de mármores, uma contabilista de Kiev, um marketeer de Lyon, um outro de Atenas e ainda uma outra de Nova Iorque. E também uma catrefada de Italianos oriundos das muitas províncias desta terra. Depois há também uns meninos e meninas do papá vindos das Américas e do Sudeste Asiático que aqui vieram para encontrar vocação ou talvez só para gastar o dinheiro do mesmo, quem sabe. Ah! E há um português claro. Como é que me podia ter esquecido? Há sempre um português.
Durante meses, enturmamo-nos e guerreamo-nos em confrontos simulados, em apresentações fictícias, em debates ilusórios. Vivemos de Excel e Powerpoint. Desenhamos negócios, aprendemos as artes e os vícios da alta finança. Calculamos terríveis Futures e ainda mais sombrias Derivatives. Pensamos um mundo todo virtual. Todinho. Feito de e-commerce e de produtos invisíveis, que ajuntem máximo valor, custem o mínimo possível e se possam vender por muito dinheiro. Dinheiro. Aprendemos a fazer dinheiro. Aos montes. Para nós e para o outro, esse ilustre e anónimo vulto que entrou nas nossas vidas e que se chama shareholder e que aprendemos a amar e de quem tentamos perceber e adivinhar apetites e caprichos.
Mas os tempos são duros. Na maioria, despedimo-nos de bons empregos para poder aqui estar. Alguns endividaram-se com isso. Quase ninguém tem uma perspectiva de emprego. Manhattan explodiu o ano passado, a bolha das Dotcom também e estamos em guerra. Agora parece que vem aí mais uma. Vai ficar tão lindo o Médio Oriente a ferro e fogo. Londres não contrata. Milão fechou as portas. A Alemanha está parada. Trabalhar nos Estados Unidos para um não residente é uma impossibilidade. A Job Fair que aqui organizaram na escola foi um desastre. Apareceram meia dúzia de empresas Italianas de segunda a distribuir brochuras e pouco mais. Faltam duas semanas para a graduation e a coisa está a ficar feia para a maior parte de nós. Os ambicionados montes de fat green paper que todos esperavam que viessem, tardam a chegar.
Mas esta noite ninguém pensa nisso. Num comboio para Verona mandamos à fava a Finança, o comportamento das organizações, o e-marketing e a gestão de operações. Viemos quase todos numa espécie de catarse colectiva para limpar o espírito e aligeirar a alma. A bordo, no bar do comboio somos uns 30. Preparam-se Martinis a rodos e os mais prosaicos dão cabo do stock de cerveja a um desesperado barman das Ferrovie dello Stato. Bebe-se e dança-se. A real party on wheels! Só a Dinamarquesa dos energy bonds é que olha pela janela do comboio em movimento. Nos olhos alguma preocupação. Será que pensa no seu futuro? No futuro da economia mundial? Nos milhares de desempregados e nas suas famílias? No fim de um ciclo económico. Volta a olhar para dentro. — Looks like it´s gonna rain guys.….

Jamiroquai — Corner of the World - Live in Verona - 11/11/02

para os jovens de idade ou de cabeça
Dedicado ao amigo Marco, que, da Bahia - Brasil, envia um sussurro de vez enquanto e aquece meu coração.
OBRIGADA!

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