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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
“Fenômeno Woody Allen”
POR ADEMIR LUIZ E ROBERTA RIBEIRO EM 23/02/2012 ÀS 06:03 PM
Outro Oscar para Woody Allen?
publicado em entrevistas
O escritor e filósofo Flávio Paranhos afirma que Woody Allen é o maior artista que já existiu e que, filosoficamente, é superior a Dostoiévski
No distante ano de 1978, Woody Allen, mesmo sem comparecer a cerimônia, conseguiu a proeza de impedir a Academia de Hollywood de fazer a desfaçatez de premiar o farsante George Lucas com os Oscar de Melhor Filme, Roteiro e Direção. De quebra garantiu para a melhor de suas musas, Diane Keaton, o prêmio de Melhor Atriz. Seu “Annie Hall” foi o grande vencedor da noite. Também foi feliz em 1987, quando “Hannah e Suas Irmãs” levou as estatuetas de Melhor Ator Coadjuvante para Michael Caine, Melhor Atriz Coadjuvante para Dianne Wiest e Melhor Roteiro Original para o próprio Allen. Depois desses anos gloriosos, volta e meia ele era lembrado, como em 2005, quando “Match Point” concorreu ao Prêmio de Roteiro Original, mas sem o impacto de antes. Contudo, na cerimônia do Oscar desse ano o seu “Meia-noite em Paris” é um azarão. Concorre a quatro estatuetas: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Direção Artística. Dificilmente leva nas categorias principais, mas o fato é que o sucesso de público e crítica do filme recuperou seu prestigio em Hollywood. Para tentarmos compreender o “Fenômeno Woody Allen” propomos uma entrevista com o escritor, médico e filósofo Flávio Paranhos, um dos maiores especialistas brasileiros na obra desse pequeno grande cineasta.
Ademir Luiz — Para começar, poderia nos contar como foi o seu encontro com Woody Allen?
Foi em outubro de 2008, quando fui pesquisador visitante no Departamento de Filosofia da Tufts University, Boston, com o filósofo Daniel Dennett. Eu sabia que Woody tocava com sua banda num hotel (Carlyle) de Nova York, e por isso me programei para ir. Comprei os ingressos com seis meses de antecedência, o que me permitiu sentar na fila do gargarejo, menos de um metro de distância dele. Eu, minha esposa e filhas. Ah, sim, e, de quebra, meu irmão e cunhada. Ele toca clarineta e sua banda é ok, mas, se você quiser ver jazz de qualidade em NYC, é melhor ir ao Blue Note ou Village Vanguard (esse último mostrado num filme de Woody, “Anything Else”). Mas quem está ali é pra ver Woody de perto. Tive a sorte ainda de encontrar também David Mamet, que deu uma canja tocando piano. Eu tinha comprado as peças de Woody numa livraria especializada em teatro com planos de levar pra ele autografar. Por coincidência, também tinha comprado a peça “November”, de Mamet, mas desgraçadamente não levei comigo. Ao final, quando o cerquei (literalmente) à saída do restaurante do hotel para ele autografar, disse-lhe que estava escrevendo um livro a seu respeito. Ele, então, pediu: "Que seja verdadeiro". Provavelmente estava preocupado com as fofocas biográficas. Tentei explicar que na verdade não era sobre a vida dele, mas sobre sua obra filosófica (Woody é o maior filósofo contemporâneo), mas ele já estava longe. É tímido e arredio como parece pelos filmes.
Foi em outubro de 2008, quando fui pesquisador visitante no Departamento de Filosofia da Tufts University, Boston, com o filósofo Daniel Dennett. Eu sabia que Woody tocava com sua banda num hotel (Carlyle) de Nova York, e por isso me programei para ir. Comprei os ingressos com seis meses de antecedência, o que me permitiu sentar na fila do gargarejo, menos de um metro de distância dele. Eu, minha esposa e filhas. Ah, sim, e, de quebra, meu irmão e cunhada. Ele toca clarineta e sua banda é ok, mas, se você quiser ver jazz de qualidade em NYC, é melhor ir ao Blue Note ou Village Vanguard (esse último mostrado num filme de Woody, “Anything Else”). Mas quem está ali é pra ver Woody de perto. Tive a sorte ainda de encontrar também David Mamet, que deu uma canja tocando piano. Eu tinha comprado as peças de Woody numa livraria especializada em teatro com planos de levar pra ele autografar. Por coincidência, também tinha comprado a peça “November”, de Mamet, mas desgraçadamente não levei comigo. Ao final, quando o cerquei (literalmente) à saída do restaurante do hotel para ele autografar, disse-lhe que estava escrevendo um livro a seu respeito. Ele, então, pediu: "Que seja verdadeiro". Provavelmente estava preocupado com as fofocas biográficas. Tentei explicar que na verdade não era sobre a vida dele, mas sobre sua obra filosófica (Woody é o maior filósofo contemporâneo), mas ele já estava longe. É tímido e arredio como parece pelos filmes.
Ademir Luiz — E sobre esse livro “verdadeiro”, ele é bem esperado por seus leitores. Como anda o processo de escrita?
Empacado. Tenho uns dois terços prontos, inclusive publiquei alguns capítulos na revista “Filosofia Ciência & Vida”, da qual sou colunista. Esse livro virou meio que uma tese, uma relação de amor e ódio. Li demais coisas dele e sobre ele (não biográficas, mas interpretativas), tanto que enjoei. Mas, engraçado, não enjoo de seus filmes. Vejo sempre, perdi a conta das vezes. Minha última aquisição é um audiobook com a obra em prosa (quase) completa dele, lida por ele mesmo.
Roberta Ribeiro — O sr. é também professor de Ética no curso de medicina da PUC-GO. Woody Allen, em muitos de seus filmes, como por exemplo “Crimes e Pecados” (que inclusive o protagonista é um médico oftalmologista), aborda esse tema. O que o sr. acha da abordagem, ou, melhor dizendo das interpretações que o cineasta dá a essa questão e se é possível utilizar os filmes do Woody Allen para discutir ética em sala de aula?
A bem da verdade, minha unidade (se eu disser “minha disciplina” eu apanho) se chama Formação Biopsicossocial do Médico, e é dada logo no primeiro módulo. Como mais adiante os alunos verão Ética Médica propriamente dita (o código), eu não me preocupo muito em entrar especificamente nisso. Prefiro ficar nas bases da ética e da bioética. E uso sempre alguns filmes. Meus preferidos são “Uma História Severina”, de Débora Diniz, “A Morte e a Donzela”, de Polanski, “Laranja Mecânica”, de Kubrick, “Ricardo III: Um Ensaio”, de Al Pacino, “Cobaias Humanas”, de Joseph Sargent, “Decálogo”, de Kieslowski e, claro, “Crimes e Pecados”, de Woody. Esse último é riquíssimo para uma discussão filosófica. Tão rico que é um dos motivos de meu livro ter empacado, pois fico na dúvida se me dedico só a ele, ou se discuto os outros também. A dúvida (e outras coisas) me paralisa(m). A maioria dos comentadores classificou esse filme, que é o melhor de Woody e o segundo melhor filme já realizado por alguém (o primeiro é “O Anjo Exterminador”, de Buñuel, evidentemente), enfim, a maioria o classificou como cínico. Woody e eu rebatemos e teimamos em que seja, sim, realista. Um dos comentadores é tão fã de Woody e tão preocupado em “salvá-lo” que chegou a elaborar uma teoria esdrúxula, pela qual o protagonista (Judah) se arrepende depois que o filme acaba. Foi monossilabicamente desautorizado por Woody. E ainda publicou isso em seu livro, como apêndice (a falta que faz uma boa autocrítica!). Em sala de aula centralizo o foco na utilização de “Crimes e Pecados” como ilustração de uma ética descritiva (assim é), em contraposição a uma normativa (assim deve ser). Podemos nos valer ainda de “Manhattan”, “Tiros na Broadway”, “Shadows and Fog”, “Desconstruindo Harry”, “Annie Hall”, “Stardust Memories”... De todos, na verdade.
Empacado. Tenho uns dois terços prontos, inclusive publiquei alguns capítulos na revista “Filosofia Ciência & Vida”, da qual sou colunista. Esse livro virou meio que uma tese, uma relação de amor e ódio. Li demais coisas dele e sobre ele (não biográficas, mas interpretativas), tanto que enjoei. Mas, engraçado, não enjoo de seus filmes. Vejo sempre, perdi a conta das vezes. Minha última aquisição é um audiobook com a obra em prosa (quase) completa dele, lida por ele mesmo.
Roberta Ribeiro — O sr. é também professor de Ética no curso de medicina da PUC-GO. Woody Allen, em muitos de seus filmes, como por exemplo “Crimes e Pecados” (que inclusive o protagonista é um médico oftalmologista), aborda esse tema. O que o sr. acha da abordagem, ou, melhor dizendo das interpretações que o cineasta dá a essa questão e se é possível utilizar os filmes do Woody Allen para discutir ética em sala de aula?
A bem da verdade, minha unidade (se eu disser “minha disciplina” eu apanho) se chama Formação Biopsicossocial do Médico, e é dada logo no primeiro módulo. Como mais adiante os alunos verão Ética Médica propriamente dita (o código), eu não me preocupo muito em entrar especificamente nisso. Prefiro ficar nas bases da ética e da bioética. E uso sempre alguns filmes. Meus preferidos são “Uma História Severina”, de Débora Diniz, “A Morte e a Donzela”, de Polanski, “Laranja Mecânica”, de Kubrick, “Ricardo III: Um Ensaio”, de Al Pacino, “Cobaias Humanas”, de Joseph Sargent, “Decálogo”, de Kieslowski e, claro, “Crimes e Pecados”, de Woody. Esse último é riquíssimo para uma discussão filosófica. Tão rico que é um dos motivos de meu livro ter empacado, pois fico na dúvida se me dedico só a ele, ou se discuto os outros também. A dúvida (e outras coisas) me paralisa(m). A maioria dos comentadores classificou esse filme, que é o melhor de Woody e o segundo melhor filme já realizado por alguém (o primeiro é “O Anjo Exterminador”, de Buñuel, evidentemente), enfim, a maioria o classificou como cínico. Woody e eu rebatemos e teimamos em que seja, sim, realista. Um dos comentadores é tão fã de Woody e tão preocupado em “salvá-lo” que chegou a elaborar uma teoria esdrúxula, pela qual o protagonista (Judah) se arrepende depois que o filme acaba. Foi monossilabicamente desautorizado por Woody. E ainda publicou isso em seu livro, como apêndice (a falta que faz uma boa autocrítica!). Em sala de aula centralizo o foco na utilização de “Crimes e Pecados” como ilustração de uma ética descritiva (assim é), em contraposição a uma normativa (assim deve ser). Podemos nos valer ainda de “Manhattan”, “Tiros na Broadway”, “Shadows and Fog”, “Desconstruindo Harry”, “Annie Hall”, “Stardust Memories”... De todos, na verdade.
Ademir Luiz — O sr. contou que na primeira aula sempre escreve no quadro em letras garrafais: “Eu não presto”. Woody Allen presta?
Não. Pelo mesmo motivo que eu e você também não. A natureza humana é hobbesiana, não rousseauniana. Somos animais (e não vegetais ou minerais, certo?), portanto, somos essencialmente bélicos, violentos, nepotistas, vaidosos e infinitamente egocêntricos. Por um motivo simples: não passamos de robôs de genes. Mas, com a maldição pascalina, temos consciência disso. E é essa consciência, no sentido por enquanto neutro, de “razão” ou “racionalidade”, como queira, que nos torna desgraçadamente diferentes. Atribuímos categorias valorativo-morais inexistentes na natureza. Se um tubarão comer apenas um pedaço de você suficiente para matar a fome dele, mas não você, o que terá é uma morte lenta e sofrida. O tubarão é cruel? Não, ele é só um tubarão. Um animal. Nós também, mas se eu fizer você morrer lentamente serei tachado pelos pares (animais humanos em geral) como cruel e merecedor da indignação alheia e punição. Como robôs e genes, temos uma tarefa a cumprir — espalhar o máximo possível... o nosso. O que inclui, se necessário, eliminar os dos outros, quanto mais distantes de nós eles forem.
Não. Pelo mesmo motivo que eu e você também não. A natureza humana é hobbesiana, não rousseauniana. Somos animais (e não vegetais ou minerais, certo?), portanto, somos essencialmente bélicos, violentos, nepotistas, vaidosos e infinitamente egocêntricos. Por um motivo simples: não passamos de robôs de genes. Mas, com a maldição pascalina, temos consciência disso. E é essa consciência, no sentido por enquanto neutro, de “razão” ou “racionalidade”, como queira, que nos torna desgraçadamente diferentes. Atribuímos categorias valorativo-morais inexistentes na natureza. Se um tubarão comer apenas um pedaço de você suficiente para matar a fome dele, mas não você, o que terá é uma morte lenta e sofrida. O tubarão é cruel? Não, ele é só um tubarão. Um animal. Nós também, mas se eu fizer você morrer lentamente serei tachado pelos pares (animais humanos em geral) como cruel e merecedor da indignação alheia e punição. Como robôs e genes, temos uma tarefa a cumprir — espalhar o máximo possível... o nosso. O que inclui, se necessário, eliminar os dos outros, quanto mais distantes de nós eles forem.
Roberta Ribeiro — Woody Allen em alguns de seus filmes usa a história como pano de fundo. Em alguns casos as gags são explícitas. Tomemos como exemplos os filmes “Poucas e Boas”, “A Última Noite de Boris Grushenko” e “Bananas”. É possível trabalhar com os filmes analisando a sátira enquanto uma didática a ser utilizada no ensino, especificamente nas produções de Woody Allen?
As comédias “puras” de Woody são prazerosas e inteligentes (particularmente “Love and Death”), mas menos úteis para, digamos, filosofar. “Love and Death”, eu diria mesmo, é a melhor comédia já realizada, em toda história do cinema. O melhor mesmo são as comédias entremeadas de drama e/ou as doce-azedas (“Crimes e Pecados” sendo o melhor representante das primeiras e “Manhattan”, das segundas).
As comédias “puras” de Woody são prazerosas e inteligentes (particularmente “Love and Death”), mas menos úteis para, digamos, filosofar. “Love and Death”, eu diria mesmo, é a melhor comédia já realizada, em toda história do cinema. O melhor mesmo são as comédias entremeadas de drama e/ou as doce-azedas (“Crimes e Pecados” sendo o melhor representante das primeiras e “Manhattan”, das segundas).
Roberta Ribeiro — A obra de Dostoiévski é muito citada nos filmes do Woody Allen. Existem ecos de “Crime e Castigo” em “Crimes e Pecados”, “Match Point” e “O Sonho de Cassandra”. Como entende essa recorrência?
Ela é declarada. Ele afirma em todas as entrevistas. Além de fácil identificação. Começa com “Love and Death”, como uma brincadeira, mas segue adiante de forma cada vez mais profunda, culminando com “Crimes e Pecados”. “O Sonho de Cassandra” e “Match Point” são retornos ao tema, de forma mais pobre, embora “Match Point” tenha tido o mérito de ter sido bastante exitoso como entretenimento. A diferença entre Woody e Dostoiévski é que o Woody é muito melhor, filosoficamente falando. Dostoiévski foi genial, claro, mas se deixou contaminar pela hiperreligiosidade, um dos traços, diga-se de passagem, de sua epilepsia (a respeito desse interessante tema sugiro a leitura do livro “O Homem que Fazia Chover”, de Edson Amâncio, editora Barcarolla, particularmente o capítulo 10 – “A contribuição involuntária de Dostoiévski à neurologia”).
Ela é declarada. Ele afirma em todas as entrevistas. Além de fácil identificação. Começa com “Love and Death”, como uma brincadeira, mas segue adiante de forma cada vez mais profunda, culminando com “Crimes e Pecados”. “O Sonho de Cassandra” e “Match Point” são retornos ao tema, de forma mais pobre, embora “Match Point” tenha tido o mérito de ter sido bastante exitoso como entretenimento. A diferença entre Woody e Dostoiévski é que o Woody é muito melhor, filosoficamente falando. Dostoiévski foi genial, claro, mas se deixou contaminar pela hiperreligiosidade, um dos traços, diga-se de passagem, de sua epilepsia (a respeito desse interessante tema sugiro a leitura do livro “O Homem que Fazia Chover”, de Edson Amâncio, editora Barcarolla, particularmente o capítulo 10 – “A contribuição involuntária de Dostoiévski à neurologia”).
Roberta Ribeiro — O período “entre guerras” também se mostra recorrente em alguns filmes: “A Era do Rádio”, “A Rosa Púrpura do Cairo” e “Zelig”. Como pensar a relação de história e memória considerando que o filme “A Era do Rádio” é reconhecidamente autobiográfico, e a era do rádio foi um período que ele vivenciou?
Falam muito da influência de Bergman, mas acho que a de Fellini, em alguns casos, é mais descarada. “Stardust Memories” é o “Oito e Meio” de Woody. E “Radio Days” é seu “Amarcord”. Considero “Stardust” melhor, mais inteligente. Quanto a “Amarcord”, esse é imbatível. É o melhor de Fellini e um dos melhores filmes já realizados por alguém (a essa altura ficou evidente que sou dado a superlativos). A relação entre história e memória, por sinal, é maravilhosamente ilustrada por “Amarcord”. Fellini inventou um bocado de coisas, mas, ainda assim, os habitantes de sua Rimini "se lembraram" de tudo! “Zelig” é ótimo para discutir a noção de “autenticidade”, tal como posta pelos existencialistas e, consequentemente, o totalitarismo.
Falam muito da influência de Bergman, mas acho que a de Fellini, em alguns casos, é mais descarada. “Stardust Memories” é o “Oito e Meio” de Woody. E “Radio Days” é seu “Amarcord”. Considero “Stardust” melhor, mais inteligente. Quanto a “Amarcord”, esse é imbatível. É o melhor de Fellini e um dos melhores filmes já realizados por alguém (a essa altura ficou evidente que sou dado a superlativos). A relação entre história e memória, por sinal, é maravilhosamente ilustrada por “Amarcord”. Fellini inventou um bocado de coisas, mas, ainda assim, os habitantes de sua Rimini "se lembraram" de tudo! “Zelig” é ótimo para discutir a noção de “autenticidade”, tal como posta pelos existencialistas e, consequentemente, o totalitarismo.
Ademir Luiz — Causou polêmica sua declaração de que Woody Allen é o maior artista que já existiu. Indo um pouco além do seu proverbial “porque eu decidi assim”, qual o sentido dessa provocação?
Por incrível que possa parecer, não é uma provocação. Eu poderia citar Platão, que, no final do “Banquete” se refere ao “poeta trágico e poeta cômico”, pra justificar a eficiência com que Woody consegue misturar comédia e tragédia em seus melhores filmes. Ou poderia classificá-lo como polifônico, no sentido mais george-steineriano (mesmo o mais original dos artistas é polifônico) do que bakhtiniano, mas também nesse sentido, por que não? Uma verdadeira polifonia filosófica. Poderia, mas, se o fizesse, estaria entrando no enfadonho, vazio e absolutamente desprovido de sentido terreno da dialética erística. Esse é o problema com as artes e humanidades. A referência para um argumento é outra referência, que, por sua vez, parte de outra referência... teórica. Pratica-se, na verdade, um “argumentum ad vericundium”. Cita-se “autoridades” para se “fundamentar” uma opinião. No entanto, ela continua sendo apenas uma opinião. Fundamentação sólida apenas experimentação científica pode fornecer. O que não é matematizável não existe (objetivamente). Por isso, fico com Susan Sontag, o melhor mesmo é uma erótica da arte, no lugar de uma hermenêutica. Mas isso não impede, veja bem, que exercitemos nossa argumentação teórica para o entretenimento de leitores que porventura “get a kick out of this”. Há gente pra tudo no mundo, até mesmo pra ler um livro sobre a filosofia de Woody Allen (eu espero!).
Por incrível que possa parecer, não é uma provocação. Eu poderia citar Platão, que, no final do “Banquete” se refere ao “poeta trágico e poeta cômico”, pra justificar a eficiência com que Woody consegue misturar comédia e tragédia em seus melhores filmes. Ou poderia classificá-lo como polifônico, no sentido mais george-steineriano (mesmo o mais original dos artistas é polifônico) do que bakhtiniano, mas também nesse sentido, por que não? Uma verdadeira polifonia filosófica. Poderia, mas, se o fizesse, estaria entrando no enfadonho, vazio e absolutamente desprovido de sentido terreno da dialética erística. Esse é o problema com as artes e humanidades. A referência para um argumento é outra referência, que, por sua vez, parte de outra referência... teórica. Pratica-se, na verdade, um “argumentum ad vericundium”. Cita-se “autoridades” para se “fundamentar” uma opinião. No entanto, ela continua sendo apenas uma opinião. Fundamentação sólida apenas experimentação científica pode fornecer. O que não é matematizável não existe (objetivamente). Por isso, fico com Susan Sontag, o melhor mesmo é uma erótica da arte, no lugar de uma hermenêutica. Mas isso não impede, veja bem, que exercitemos nossa argumentação teórica para o entretenimento de leitores que porventura “get a kick out of this”. Há gente pra tudo no mundo, até mesmo pra ler um livro sobre a filosofia de Woody Allen (eu espero!).
Roberta Ribeiro — O filme “Meia-Noite em Paris” foi muito bem recebido pela crítica e pelo grande público. A produção aborda a questão da nostalgia, mostra a obsessão que temos pela “Idade do Ouro”; ou seja, a ideia de que o passado é melhor. Isso não seria fruto de uma mentalidade de cunho positivista, onde são exaltados os grandes heróis e figuras marcantes de um determinado período histórico?
Ao termo “positivista” aconteceu algo parecido com o que aconteceu com o termo “cartesiano” — transformaram-se, ambos, em xingamentos. O que é uma pena, pois se nos ativermos às intenções iniciais, não são coisas negativas, pelo contrário, são vacinas contra leviandades pseudocientíficas. Embora seja verdade que, na filosofia da mente, Descartes sirva mais como padrão de erro do que de acerto. Mas divago. Em “Meia-Noite em Paris” (agora indicado ao Oscar) Woody explora algo que nos é bastante conhecido, a síndrome de “a grama do vizinho é sempre mais verde”. No caso, grama histórica. Se “Meia-Noite...” ganhar Oscar, não existe justiça nesse mundo. Torço contra. É inacreditável, inconcebível, absurdo que outros filmes dele muito mais brilhantes não tenham sido sequer indicados, e esse receba.
Ao termo “positivista” aconteceu algo parecido com o que aconteceu com o termo “cartesiano” — transformaram-se, ambos, em xingamentos. O que é uma pena, pois se nos ativermos às intenções iniciais, não são coisas negativas, pelo contrário, são vacinas contra leviandades pseudocientíficas. Embora seja verdade que, na filosofia da mente, Descartes sirva mais como padrão de erro do que de acerto. Mas divago. Em “Meia-Noite em Paris” (agora indicado ao Oscar) Woody explora algo que nos é bastante conhecido, a síndrome de “a grama do vizinho é sempre mais verde”. No caso, grama histórica. Se “Meia-Noite...” ganhar Oscar, não existe justiça nesse mundo. Torço contra. É inacreditável, inconcebível, absurdo que outros filmes dele muito mais brilhantes não tenham sido sequer indicados, e esse receba.
Ademir Luiz — Frederic Raphael, roteirista de “Olhos Bem Fechados”, disse que Stanley Kubrick é “um diretor de cinema que por acaso é um gênio e não um gênio que por acaso é um diretor de cinema”. Essa afirmação vale para Woody Allen?
Eu sabia que você daria um jeito de botar Kubrick nisso. Que obsessão! Sim, eu sei, eu também, mas a minha obsessão é muito melhor do que a sua. Isso responde a pergunta?
Eu sabia que você daria um jeito de botar Kubrick nisso. Que obsessão! Sim, eu sei, eu também, mas a minha obsessão é muito melhor do que a sua. Isso responde a pergunta?
Ademir Luiz — Responde, com certeza. Mas, falando nisso, Woody Allen dirigiu alguns filmes esteticamente belíssimos, como “Manhattan”, mas ele costuma ser mais elogiado pelos roteiros e direção de atores do que pela cinematografia. É inegável que sua obra é bastante desigual. Vai de obras-primas até bombas indesculpáveis, como “O Escorpião de Jade”. A velocidade de sua produção, às vezes fazendo mais de um filme por ano, desequilibra o conjunto? Como pensar em termos de julgamento estético de uma obra esse possível desequilíbrio? Um filme tido como fraco de Woody Allen costuma ser melhor do que um bom filme de um cineasta mediano?
Realmente, fazer pelo menos um filme por ano durante vários anos tem essa desvantagem. Alguns são fracos, pelos padrões woodyallenianos. Mas, como você bem disse, mesmo esses são melhores do que a média que é lançada por aí. Cinematograficamente, seus filmes são simples, ele raramente inventa moda. A não ser quando se vale do preto-e-branco, como em “Manhattan”, “Stardust Memories”, “Broadway Danny Rose”, “Shadows and Fog”. “Zelig” tem a montagem que ficou famosa. “Husbands and Wives” tem as câmeras “nervosas”, das quais não gostei. “Deconstructing Harry” tem os cortes abruptos. Mas, de forma geral, sua força está nos diálogos. Se eu fosse escolher seu filme mais, digamos, bonito, eu também ficaria com “Manhattan”. Aquele início com “Rapsody in Blue” de Gershwin, o segundo compositor mais brilhante do século XX, é de arrepiar.
Realmente, fazer pelo menos um filme por ano durante vários anos tem essa desvantagem. Alguns são fracos, pelos padrões woodyallenianos. Mas, como você bem disse, mesmo esses são melhores do que a média que é lançada por aí. Cinematograficamente, seus filmes são simples, ele raramente inventa moda. A não ser quando se vale do preto-e-branco, como em “Manhattan”, “Stardust Memories”, “Broadway Danny Rose”, “Shadows and Fog”. “Zelig” tem a montagem que ficou famosa. “Husbands and Wives” tem as câmeras “nervosas”, das quais não gostei. “Deconstructing Harry” tem os cortes abruptos. Mas, de forma geral, sua força está nos diálogos. Se eu fosse escolher seu filme mais, digamos, bonito, eu também ficaria com “Manhattan”. Aquele início com “Rapsody in Blue” de Gershwin, o segundo compositor mais brilhante do século XX, é de arrepiar.
Roberta Ribeiro — O sr. já trabalhou em diversos artigos a influência da filosofia existencialista na obra de Woody Allen. Albert Camus escreveu que o único problema realmente sério da filosofia é o suicídio. Como pensar essa relação, por exemplo, em “Tudo Pode Dar Certo”, onde Woody Allen faz da tentativa de suicídio do personagem Boris uma das cenas mais engraçadas do filme?
“Tudo Pode Dar Certo” foi uma tradução infeliz de “Whatever Works”. Dá um sentido otimista para algo essencialmente pessimista. Manter-se vivo, seguir existindo sabendo que o universo está expandindo e nos é indiferente (para usar termos de Woody) só é possível agarrando-se a qualquer coisa que sirva para nos segurar aqui. No caso do personagem Boris (maravilhosamente interpretado por Larry David) foram a sorte e as mulheres. No caso de Woody são seus filmes. Ele já disse várias vezes, pra quem quiser ouvir, que faz filmes única e exclusivamente para seguir vivendo, ou seja, pra não pular ele mesmo da janela de seu apartamento. Por isso os faz sem parar. A propósito, “Whatever Works” é, sem dúvida, o melhor filme dele nos últimos dez anos. Este, sim, deveria ser lembrado pro Oscar.
“Tudo Pode Dar Certo” foi uma tradução infeliz de “Whatever Works”. Dá um sentido otimista para algo essencialmente pessimista. Manter-se vivo, seguir existindo sabendo que o universo está expandindo e nos é indiferente (para usar termos de Woody) só é possível agarrando-se a qualquer coisa que sirva para nos segurar aqui. No caso do personagem Boris (maravilhosamente interpretado por Larry David) foram a sorte e as mulheres. No caso de Woody são seus filmes. Ele já disse várias vezes, pra quem quiser ouvir, que faz filmes única e exclusivamente para seguir vivendo, ou seja, pra não pular ele mesmo da janela de seu apartamento. Por isso os faz sem parar. A propósito, “Whatever Works” é, sem dúvida, o melhor filme dele nos últimos dez anos. Este, sim, deveria ser lembrado pro Oscar.
Ademir Luiz — Nas últimas décadas, Woody Allen adotou outras cidades para a filmagem de suas produções, como por exemplo, Londres, Paris, Roma e Barcelona, deixando um pouco a cidade de Nova York. O que o senhor acha que podemos esperar do tão comentado filme que ele promete realizar no Rio de Janeiro? Qual o peso da Copa e da Olimpíada para essa escolha de locação? Agora que “Meia-Noite em Paris” foi indicado ao Oscar, recuperando seu prestígio em Hollywood, filmar no Rio de Janeiro ainda interessa a Woody Allen?
Ele só saiu de Nova York porque não conseguia mais financiamento nos EUA. Vai aonde lhe dão dinheiro pra fazer seus filmes. Por isso os últimos são propagandas descaradas das cidades em que foram feitos, particularmente o de Paris. E ele só virá ao Brasil se lhe derem dinheiro suficiente para fazer um filme aqui. Parece coisa de interesseiro, mas é questão de sobrevivência mesmo.
Ele só saiu de Nova York porque não conseguia mais financiamento nos EUA. Vai aonde lhe dão dinheiro pra fazer seus filmes. Por isso os últimos são propagandas descaradas das cidades em que foram feitos, particularmente o de Paris. E ele só virá ao Brasil se lhe derem dinheiro suficiente para fazer um filme aqui. Parece coisa de interesseiro, mas é questão de sobrevivência mesmo.
crônica
POR EBERTH VÊNCIO EM 23/02/2012 ÀS 09:52 PM
Amou daquela vez como se fosse a última
publicado em colunistas
Combinaram assim: falar-se-iam diariamente, por volta das seis da tarde, a fim de conferir (ele, o filho), checar, assegurar que ele estivesse vivo e passando bem (ele, o pai). Fizeram o acordo sem disfarçarem o profundo embaraço, com os olhos liquefeitos em lágrimas e o coração pelejando em ritmo desembestado.
Abraçaram-se besta e dramaticamente, como se fosse pela última vez. O pai concedeu a benção ao filho e tocou para a chácara onde residia, nos arredores da cidade. “Esta gleba aqui a Prefeitura não vai lotear nem a pau!”, gaba-se, redondamente enganado a respeito do apetite avassalador da especulação imobiliária que domina as metrópoles e os seus dirigentes.
Há cinco anos, o velho enviuvara. No começo, o choque da separação compulsória remeteu-o a pensamentos destrutivos, anti-crísticos, conforme ele mesmo dizia numa linguagem empolada. De tal forma que não firmou o propósito de se autoaniquilar. Perdeu a mulher, alguns quilos, mas não perdeu a fé.
Homem vivido e experimentado nas ene tragédias desta e de outras vidas (ele cria piamente em antibióticos e reencarnações), sabia que o tempo cicatrizava quase todo tipo de ferida. Então esperou. Enquanto isso, mergulhava nos livros, devorava-os como se fossem os comprimidos de vitaminas e de rivotril. O que era pior naquela idade: osteoporose, insônia ou uma saúde de ferro?
Apesar de acorrentado à oitava década de vida, gozava de razoável saúde. Animava-se com a suposição que, ao tomar um cálice de vinho tinto ao dia, estaria protegendo as veias e as artérias da ação maléfica do tempo, do colesterol, do estresse e das tristezas acumuladas. Então secava uma taça de vinho chileno antes do almoço, religiosamente. Se Jesus transformara água em vinho é porque havia mesmo certo poder medicinal naquele líquido inebriante. Um santo remédio, não restava dúvida: além de desentupir as veias, entorpecia o dia.
Ultimamente, por causa das incursões nos temas esotéricos, andava melancólico, flutuando entre as aflições do presente e as lembranças da mocidade. Não podia mais negar: tinha medo da morte, sim. Afinal, ali estava ela, pisando em seus calcanhares, implacável, bafejando um hálito indesejável na sua nuca.
Tinha uma saudade doída da mulher, uma dor que até parecia palpável nalgum lugar do abdômen. Vivos restavam poucos companheiros. Quase todos com a saúde no guimba, em “péssimo estado de conservação”, como ele mesmo costumava brincar.
No íntimo, torcia muito para morrer subitamente. Se pudesse escolher, preferia morrer dormindo, sem asfixia, é claro. Morrer rapidinho, como se fora uma manga podre caindo do pé. Uma bala perdida cravada no peito não seria de todo ruim. E havia tantas delas, ultimamente. Precisava se encontrar.
Todas as doutrinas lidas, relidas e esmiuçadas no decorrer de tantos anos, miseravelmente, não lhe davam suficiente guarida para suportar o epílogo. Temia a morte, como temia uma cólica de rins. Como seria possível a um ser humano produzir pedras dentro do próprio corpo? Eram dúvidas concretas de se amolecer qualquer sujeito.
Uma vez que morava sozinho no casebre, a possibilidade iminente de ser encontrado sem vida, já em avançado estado de decomposição, vinha arruinando as suas noites de sono desde que a mulher desencarnara (ele jamais desencanava destes dilemas da carne e da alma). Procurou então o filho único para externar o pavor, para dividir o drama e selarem um pacto que pusesse fim àquela agonia.
Que se falassem todos os dias, às seis. Que o rapaz tivesse paciência com ele e procurasse compreender a sua situação (afinal, um dia ficaria velho também e coisa e tal). Que verificasse pessoalmente estaria ele vivo ou não (ele, o pai). Nem precisava gastar tempo ou gasolina. Bastava discar o telefone. Requisitou a máxima atenção do filho. Olhou no miolo dos seus olhos, como se quisesse entrar dentro deles: “Estamos combinados?!”, implorou, e o seu estado era mesmo de fazer dó.
Ainda que desejasse chorar, o moço sorriu. Embora se sentisse meio arrasado com a fraqueza do pai (e dele próprio), buscou consolar. “Você viu? O Governo concedeu um abono aos aposentados...”, comentou qualquer assunto, tentando desfazer o rumo da prosa, esforçando-se para dizer algo agradável que os resgatasse daquele nevoeiro de sentimentos.
O rapaz tentou fazer graça da situação, mas o pai não riu. Na verdade, ele percebeu que as proeminentes rugas na fronte do velhote pulavam freneticamente, como se fossem um frango com o pescoço quebrado saltitando no terreiro, suplicando por um “sim”.
Sim. Tudo bem. Garantiu ao velho pai que telefonaria todos os dias, às seis. “Pode ligar a cobrar...”, recomendou o ancião, utilizando um atrativo dos mais mixurucas, uma recompensa bisonha, como se oferecesse uma guloseima a uma criancinha. Parecia mesmo uma criatura pra lá de descontrolada.
O velhote recostou na poltrona e expirou demoradamente, retirando o peso do mundo das suas costas. Relaxou, enfim. Nutria uma admiração profunda e verdadeira pelo filho. Teve vontade de confessar que o amava, mas este era um daqueles verbos complicados que não conseguia conjugar nem fodendo.
Conforme o pacto, falaram-se diariamente durante algumas semanas. Até que um dia, o telefone tocou, e nem ao menos eram seis da tarde. Do outro lado da linha, uma moça de voz delicada quis saber se ele era o senhor fulano de tal, pai do beltrano de tal, que tinha embarcado no voo de ontem à noite para Pasárgada. Ela e a empresa aérea lamentavam profundamente (“Por favor, o senhor procure ficar tranquilo...”), mas havia fortíssimos indícios que a aeronave desaparecera nalgum ponto indeterminado sobre o Oceano Pacífico. As buscas já haviam começado. Ele buscou, mas não encontrou o chão.
Obs: o título desta crônica é um verso do poema “Construção”, de Chico Buarque de Hollanda.
LINKS
100 links para clicar antes de morrer
publicado em listas
Uma seleção com os 100 melhores links publicados na coluna Web Stuff, do suplemento Opção Cultural, do Jornal Opção. A lista faz uma espécie de inventário do que teve de melhor na internet nos últimos três anos. Os links que compõem a lista contemplam os mais díspares perfis e abrange os mais diferentes segmentos e tendências: música, livros, cinema, fotografia, ciência, tecnologia, jornalismo, mídias sociais, artes e humanidades. Entre os 100 links para se clicar antes de morrer, destacam-se: Toda a obra de Wolfgang Amadeus Mozart para download; O maior acervo de arte da internet; 750 mil livros para download; 1001 álbuns para ouvir antes de morrer; O maior acervo de vídeos de jazz da internet; A obra completa de Machado de Assis para download; 10 mil jornais de todo o planeta em um só lugar; 20 mil fotos de Henri Cartier-Bresson; As 20 obras de arte mais caras da história; As 100 maiores canções de jazz de todos os tempos (com vídeo e áudio incorporados).
Gritos e Sussurros
Poema: Bruna Pestana Bezerra
E eis que ao eclodir o grito
Se ouve de longe um breve sussurro
Sussurro este que expressa a alma e
Transborda sem regras, rédeas ou imposições
Aquilo que existe de mais íntimo,
O ser, o escrever, o ser lido.
Representada por letras e frases
A alma come as vírgulas e pontos
Alterando os sentidos e deixando tudo ambíguo
Já que ela é colapso e expansão
De espírito livre e indomável.
Às vezes finge se curvar às regras
E apreciar aquilo que lhe é imposto
E admira a vida sem limitações
Até que se esbarra em injustiças e desigualdades
Então se ouve o grito, a não conformidade
E a vontade de mudar o mundo,
Sem deixar de apreciá-lo.
E assim se descreve esta seção
E também aquela que a escreve
Que vive intensamente, corre e clama
Sem perceber se alguém reclama
Não se acomoda, exige mudanças e brinca de roda.
Ruy Castro e a força das palavras
(Foto: Marcelo Correa)
Ele é formado em ciências sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas nunca apareceu para buscar o diploma. A grande paixão de Ruy Castro é contar histórias de pessoas que o inspiraram em algum momento de sua história. Autor de biografias lançadas no Brasil e no exterior – como Carmen (Companhia das Letras), que ganhou o Prêmio Jabuti em 2006 –, Ruy esquadrinha a vida de seus biografados. Mas o jornalista e escritor, de 63 anos, nascido em Caratinga (MG) e morador do Rio desde os 17 anos, também é um cara pra lá de biografável. Namorou muito, está no terceiro casamento, teve duas filhas, já enfrentou maridos ciumentos, pulou muro de estádio (para ver o Flamengo), morou na Europa, assistiu a duas revoluções e derrotou um câncer. Recentemente, o colunista da Folha de S.Paulo, de rádio e de TV atacou de ator no filme Agamenon, com direção de Victor Lopes. Ainda prepara mais dois livros, A Vida por Escrito, sobre compor biografias, e Raios e Balas, coletânea de provocações e polêmicas que virá se juntar à suas 46 obras. Ruy conversou com CLAUDIA sobre viver uma história de amor em casas separadas e escrever sobre Carmen Miranda em pleno tratamento de câncer.
Como você foi parar em um filme? Já havia interpretado antes?
Certa vez, me perguntaram numa entrevista qual seria meu próximo biografado. Respondi de brincadeira que seria o Agamenon Mendes Pedreira – criação dos humoristas Marcelo Madureira e Hubert Aranha, do Casseta & Planeta. Agamenon é um velho jornalista corrupto e semianalfabeto, cujas aventuras são publicadas no jornal O Globo aos domingos. Falei fazendo piada, mas Marcelo e Hubert levaram a sério e, quando resolveram filmar a vida do Agamenon, me chamaram para interpretar o biógrafo dele! Embora nunca tivesse representado antes, topei, porque sou muito cara de pau.
Você trabalhava como jornalista até começar a escrever livros, em 1989. Como se deu essa mudança?
Tinha acabado de fazer 40 anos, dos quais 21 de trabalho na imprensa. Estava como frila, matava um leão por dia e comecei a ter ideias que não cabiam em nenhum jornal ou revista – a história da bossa nova, por exemplo, ou a vida de Nelson Rodrigues. Só cabiam em livro. Falei sobre isso com o Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, e ele me propôs fazê-los. Até então, nunca havia passado pela minha cabeça ser autor de livros.
Por que começou com biografias?
Elas usam a mesma matéria-prima das reportagens: informação. O que me fascinou foi a possibilidade de arrancá-la de dentro da memória das pessoas. Todos esses livros foram feitos à base de, literalmente, milhares de entrevistas com os protagonistas ou coadjuvantes daquelas histórias. Não têm nada de saudosismo, não tenho saudade do passado. Só uma insaciável curiosidade. Gosto de descobrir como eram as coisas em outros tempos. Acho essa “recuperação histórica” importantíssima para a cultura.
Você escreveu Carmen em pleno tratamento de câncer, o que surpreendeu seu médico, os familiares e amigos. A falta de autopiedade ajudou?
Sem dúvida. Em fevereiro de 2005, quando fui diagnosticado com um tumor na base da língua, eu tinha apenas começado a escrever Carmen, depois de mais de quatro anos de investigação. Ali mesmo decidi que não iria perder tempo com a doença – iria me dedicar ao tratamento. E escrever faria parte dele. Meu cirurgião, Jacob Kligerman, contou certa vez para um repórter que, quando era dia da minha consulta, ele pedia à secretária para marcar horário duplo – a primeira meia hora para ele tratar de mim; a segunda meia hora para eu tratar dele... (Risos.) Dr. Jacob dizia que minha atitude positiva e produtiva diante da doença e do tratamento fazia bem a mim e a ele. Mas ele próprio se espantou quando, no fim do ano, foi ao lançamento do livro e constatou que eu tinha escrito aquele tijolo de 600 páginas enquanto fazia o tratamento, com radioterapia pesada e quimioterapia.
O que você fez para não desanimar?
Não queria passar vergonha diante da Carmen! (Risos.) Devia a ela não apenas terminar o livro, mas fazer justiça à fabulosa mulher que ela havia sido. É claro também que, sem a presença da minha mulher (a escritora Heloisa Seixas), eu não teria chegado ao fim daquele ano...
Você parou de fumar por causa do câncer e já havia parado de beber, há 23 anos. O que foi mais difícil?
Para deixar de beber, me internei por 30 dias numa clínica para dependentes químicos em Cotia, perto de São Paulo, em 1988. Nos primeiros dias, passei muito mal, com tremendas síndromes de abstinência. Só comecei a melhorar depois de uma semana. Mas então me convenci de que, para mim, a vida sem bebida seria melhor – o que a realidade tem provado nestes últimos 23 anos. Aliás, se tivesse continuado bebendo, eu não teria chegado vivo nem a 1990. Quanto a parar de fumar, isso só aconteceu quando tive câncer – provocado, aliás, pelo cigarro e pela bebida, embora eu já não bebesse mais. Com o cigarro, foi bem mais fácil: decidi que, a partir daquele dia, não fumaria mais. E pronto.
O que Carmen trouxe a você?
Foi o livro para o qual me preparei a vida inteira para escrever. Deixa longe tudo que eu já tinha feito. Por mais dolorosa que tenha sido a fase final, por causa do câncer, tive um prazer quase sexual em cada linha.
Quando mergulha na vida de uma pessoa para biografá-la, acha que se conecta com ela espiritualmente?
Não acredito em Deus, mas acredito numa conexão mental, pelo fato de ficar ligado ao biografado o dia inteiro, todos os dias, por anos seguidos. Deixo de viver a minha vida e me mudo para a vida do biografado. Isso talvez explique as incríveis coincidências que às vezes me ajudam a localizar uma fonte ou conseguir uma informação.
Sua mulher é romancista. Como é a casa de dois escritores superprodutivos?
Bem, primeiro, não é uma casa, mas duas. Vivemos há 20 anos em apartamentos separados, no Leblon, mas a dez quarteirões um do outro. Deve ser por isso que dá tão certo, não? (Risos.) Segundo, o processo de trabalho é inteiramente diferente. O ficcionista não pode admitir interferências. Já o biógrafo precisa que todo mundo dê palpite – já que depende das informações dos outros. É por essa razão que peço a ela para ler cada capítulo que escrevo, às vezes até antes de acabá-lo, ao passo que só fico sabendo do que tratam os livros dela quando eles já estão prontos. Mas, fora isso, temos muitas coisas em comum, como o amor ao Rio, aos gatos, ao samba e ao futebol.
Você acaba de lançar um livro escrito a quatro mãos com ela, Terramarear (Companhia das Letras).
Gostamos muito de viajar, e Heloisa, em especial, é grande observadora. Na volta, costumamos escrever para revistas sobre certas experiências da viagem. Há algum tempo, examinando essas matérias, concluímos que todas tinham um viés cultural – como se estivéssemos mais em busca do tempo que do espaço. Por exemplo, queríamos achar o lugar em Nova York onde foi rodada aquela sequência de O Pecado Mora ao Lado, do ventinho do metrô na saia da Marilyn Monroe. Vimos que tínhamos muito material e que havia uma unidade. Heloisa teve a ideia do título, Terramarear, nome de uma coleção de livros de aventuras da antiga Companhia Editora Nacional, nos anos 1940 e 1950. Assim nasceu o livro.
Entre todas as atividades que você tem, qual é a que lhe dá mais prazer? E a que mais traz dinheiro?
Todas me dão prazer e todas me permitem viver com certo conforto. Mas o dinheiro não é o principal motivo. Se eu não levasse tanto tempo escrevendo, ganharia muito mais com as palestras e os cursos.
O que você tem vontade de fazer nos próximos anos?
Sinceramente, parar de trabalhar, me converter à vagabundagem, andar o dia inteiro pelas ruas do Rio e nunca mais ser visto de calças compridas, só de bermudas. Mas essa situação não vai acontecer.
Qual a melhor biografia que já leu?
Judy, de Gerold, com “o” mesmo, Frank, publicada há uns 30 anos. A Judy em questão é Judy Garland. Adoro ler e tenho uma relação com os livros desde pequeno. Eu já lia Nelson Rodrigues quando ainda era garoto. E posso dizer que o dia mais importante de minha infância foi quando descobri que sabia ler. Eu tinha de 4 para 5 anos. Foi como assistir ao próprio parto.
http://claudia.abril.com.br/materia/claudia-pergunta-a-ruy-castro?p=%2Fcomportamento%2Fatualidades%2F&pw=2
Como você foi parar em um filme? Já havia interpretado antes?
Certa vez, me perguntaram numa entrevista qual seria meu próximo biografado. Respondi de brincadeira que seria o Agamenon Mendes Pedreira – criação dos humoristas Marcelo Madureira e Hubert Aranha, do Casseta & Planeta. Agamenon é um velho jornalista corrupto e semianalfabeto, cujas aventuras são publicadas no jornal O Globo aos domingos. Falei fazendo piada, mas Marcelo e Hubert levaram a sério e, quando resolveram filmar a vida do Agamenon, me chamaram para interpretar o biógrafo dele! Embora nunca tivesse representado antes, topei, porque sou muito cara de pau.
Você trabalhava como jornalista até começar a escrever livros, em 1989. Como se deu essa mudança?
Tinha acabado de fazer 40 anos, dos quais 21 de trabalho na imprensa. Estava como frila, matava um leão por dia e comecei a ter ideias que não cabiam em nenhum jornal ou revista – a história da bossa nova, por exemplo, ou a vida de Nelson Rodrigues. Só cabiam em livro. Falei sobre isso com o Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, e ele me propôs fazê-los. Até então, nunca havia passado pela minha cabeça ser autor de livros.
Por que começou com biografias?
Elas usam a mesma matéria-prima das reportagens: informação. O que me fascinou foi a possibilidade de arrancá-la de dentro da memória das pessoas. Todos esses livros foram feitos à base de, literalmente, milhares de entrevistas com os protagonistas ou coadjuvantes daquelas histórias. Não têm nada de saudosismo, não tenho saudade do passado. Só uma insaciável curiosidade. Gosto de descobrir como eram as coisas em outros tempos. Acho essa “recuperação histórica” importantíssima para a cultura.
Você escreveu Carmen em pleno tratamento de câncer, o que surpreendeu seu médico, os familiares e amigos. A falta de autopiedade ajudou?
Sem dúvida. Em fevereiro de 2005, quando fui diagnosticado com um tumor na base da língua, eu tinha apenas começado a escrever Carmen, depois de mais de quatro anos de investigação. Ali mesmo decidi que não iria perder tempo com a doença – iria me dedicar ao tratamento. E escrever faria parte dele. Meu cirurgião, Jacob Kligerman, contou certa vez para um repórter que, quando era dia da minha consulta, ele pedia à secretária para marcar horário duplo – a primeira meia hora para ele tratar de mim; a segunda meia hora para eu tratar dele... (Risos.) Dr. Jacob dizia que minha atitude positiva e produtiva diante da doença e do tratamento fazia bem a mim e a ele. Mas ele próprio se espantou quando, no fim do ano, foi ao lançamento do livro e constatou que eu tinha escrito aquele tijolo de 600 páginas enquanto fazia o tratamento, com radioterapia pesada e quimioterapia.
O que você fez para não desanimar?
Não queria passar vergonha diante da Carmen! (Risos.) Devia a ela não apenas terminar o livro, mas fazer justiça à fabulosa mulher que ela havia sido. É claro também que, sem a presença da minha mulher (a escritora Heloisa Seixas), eu não teria chegado ao fim daquele ano...
Você parou de fumar por causa do câncer e já havia parado de beber, há 23 anos. O que foi mais difícil?
Para deixar de beber, me internei por 30 dias numa clínica para dependentes químicos em Cotia, perto de São Paulo, em 1988. Nos primeiros dias, passei muito mal, com tremendas síndromes de abstinência. Só comecei a melhorar depois de uma semana. Mas então me convenci de que, para mim, a vida sem bebida seria melhor – o que a realidade tem provado nestes últimos 23 anos. Aliás, se tivesse continuado bebendo, eu não teria chegado vivo nem a 1990. Quanto a parar de fumar, isso só aconteceu quando tive câncer – provocado, aliás, pelo cigarro e pela bebida, embora eu já não bebesse mais. Com o cigarro, foi bem mais fácil: decidi que, a partir daquele dia, não fumaria mais. E pronto.
O que Carmen trouxe a você?
Foi o livro para o qual me preparei a vida inteira para escrever. Deixa longe tudo que eu já tinha feito. Por mais dolorosa que tenha sido a fase final, por causa do câncer, tive um prazer quase sexual em cada linha.
Quando mergulha na vida de uma pessoa para biografá-la, acha que se conecta com ela espiritualmente?
Não acredito em Deus, mas acredito numa conexão mental, pelo fato de ficar ligado ao biografado o dia inteiro, todos os dias, por anos seguidos. Deixo de viver a minha vida e me mudo para a vida do biografado. Isso talvez explique as incríveis coincidências que às vezes me ajudam a localizar uma fonte ou conseguir uma informação.
Sua mulher é romancista. Como é a casa de dois escritores superprodutivos?
Bem, primeiro, não é uma casa, mas duas. Vivemos há 20 anos em apartamentos separados, no Leblon, mas a dez quarteirões um do outro. Deve ser por isso que dá tão certo, não? (Risos.) Segundo, o processo de trabalho é inteiramente diferente. O ficcionista não pode admitir interferências. Já o biógrafo precisa que todo mundo dê palpite – já que depende das informações dos outros. É por essa razão que peço a ela para ler cada capítulo que escrevo, às vezes até antes de acabá-lo, ao passo que só fico sabendo do que tratam os livros dela quando eles já estão prontos. Mas, fora isso, temos muitas coisas em comum, como o amor ao Rio, aos gatos, ao samba e ao futebol.
Você acaba de lançar um livro escrito a quatro mãos com ela, Terramarear (Companhia das Letras).
Gostamos muito de viajar, e Heloisa, em especial, é grande observadora. Na volta, costumamos escrever para revistas sobre certas experiências da viagem. Há algum tempo, examinando essas matérias, concluímos que todas tinham um viés cultural – como se estivéssemos mais em busca do tempo que do espaço. Por exemplo, queríamos achar o lugar em Nova York onde foi rodada aquela sequência de O Pecado Mora ao Lado, do ventinho do metrô na saia da Marilyn Monroe. Vimos que tínhamos muito material e que havia uma unidade. Heloisa teve a ideia do título, Terramarear, nome de uma coleção de livros de aventuras da antiga Companhia Editora Nacional, nos anos 1940 e 1950. Assim nasceu o livro.
Entre todas as atividades que você tem, qual é a que lhe dá mais prazer? E a que mais traz dinheiro?
Todas me dão prazer e todas me permitem viver com certo conforto. Mas o dinheiro não é o principal motivo. Se eu não levasse tanto tempo escrevendo, ganharia muito mais com as palestras e os cursos.
O que você tem vontade de fazer nos próximos anos?
Sinceramente, parar de trabalhar, me converter à vagabundagem, andar o dia inteiro pelas ruas do Rio e nunca mais ser visto de calças compridas, só de bermudas. Mas essa situação não vai acontecer.
Qual a melhor biografia que já leu?
Judy, de Gerold, com “o” mesmo, Frank, publicada há uns 30 anos. A Judy em questão é Judy Garland. Adoro ler e tenho uma relação com os livros desde pequeno. Eu já lia Nelson Rodrigues quando ainda era garoto. E posso dizer que o dia mais importante de minha infância foi quando descobri que sabia ler. Eu tinha de 4 para 5 anos. Foi como assistir ao próprio parto.
http://claudia.abril.com.br/materia/claudia-pergunta-a-ruy-castro?p=%2Fcomportamento%2Fatualidades%2F&pw=2
Não Aprendi Geografia
Porque foi assim. Ele. Como se fosse fácil. Como se fosse sempre. Como se fosse antes. Como se fosse leve. Como. Simples. Palavras que são estrada. Escrevo, porque o que mais pode fazer quem tem o corpo no exílio? São palavras porque não é o estender minha mão e tocar o dorso da tua. São palavras porque não é esbarrarmos os ombros quando andamos distraídos de nós mesmos. São palavras porque não é o sentar no chão, rir alto, entrelaçar dedos. São palavras porque não é café, cama, cadeira de plástico. Porque não é cotidiano. São palavras porque não são, não podem ser, pele, cheiro e gosto. Procuro palavras. Das que você pode afagar, que façam quase possível tocar a letra como se corpo fosse. Então, o ritmo. Um-dois, Um-dois, Um-dois, rodopio. Um-dois, Um-dois, rodopio. Põem-me tonta. Um jeito de dançar, sem que se esteja em um abraço. Que antecipo. Faço-me vitral: pedaços cortantes de uma beleza possível. Recolho fragmentos: frases, músicas, memórias. Monto um quebra-cabeça de mim mesma que dá em nada. Gosto de ser uma espécie de check-list do seu querer. Com pontos fora da curva, para que o olhar me procure. Eu ontem o vi. Ou inventei. Porque eu quase encostei minha cabeça em seu peito, mas era apenas luz, sombra, letras e a minha vontade. Eu quero. Quero que me leia em braile. Que me reinvente. Defina espaços, curvas e reentrâncias. Quero que me conte do que eu já não sabia de mim. Quero que me desarrume as malas, os planos, o cabelo, quero que me desarrume o vestido. Quero não querer tanto não estar onde estou. Faço confissões dos pequenos saberes: uma panela, uma canção, uma memória. Sei dos terremotos. O quê? Eles se repetem. Sei mais um tantinho: não se previne terremoto. O que se faz é tentar sobreviver. Vou tentando sobreviver de vislumbres. Pedaços d'alma no espelho. Improviso. Não pode ser mau improvisar, faz de conta que o viver é música. Um jazz. Sem platéia, improviso o fogo. Livre. Mas com vontade das amarras. Do plano. Do amanhã conhecido entre braços. Poder dizer: quero. Fico perdida nos princípios. Sou rápida demais. Voraz demais. Ansiosa. Precipitada. Quero ser personagem nos seus olhos. Quero que ele me diga. Porque ele me vê e eu existo. Mas não só. Quero, porque ele me viu. Eu já existia, ali, pra ele, antes mesmo de saber. Desassossego, que linda palavra. Agora, nada sei. Não sei dizer, não sei calar. Espero. E o corpo espera. Espera o encontro, o abrigo, espera a vez dele. Espera, principalmente, um tempo em que não precisará esperar. Espero o que nem sei e tenho medo de ter entendido tudo errado. Entendi? Errado? Eu sei que quero muito e tudo e logo e não é assim que as coisas acontecem. Mas são assim que elas me acontecem.
Por Luciana Nepomuceno
BINGO! rs
Assinado eu
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
VÁ À MATINÊ
O MELHOR CONSELHO DO MUNDO: “QUANDO TIVER UM PROBLEMA SEM SOLUÇÃO, VÁ À MATINÊ”
por Geneton Moraes Neto |
O cansaço deixou marcas no rosto de Gabriel García Márquez: os olhos estão vermelhos, os cabelos desgrenhados são uma moldura perfeita para o tédio que se desenha em cada sulco da face, a camisa branca exibe marcas de suor nas axilas. São 11 e 45 da noite.
A fama cansa. Deixe-me em paz. Quero dormir – é o que diria, se quisesse ser brutalmente franco com o repórter que o importuna neste fim de noite.
Se pudesse escolher, García Márquez estaria dormindo o quarto sono agora. Mas o Prêmio Nobel é homem de palavra. Cumpre a promessa feita horas antes : depois de passar a tarde inteira falando a estudantes de cinema sobre os segredos da criação literária, como se os talentos da imaginação pudessem ser transmitidos numa sala de aula, ele chega sozinho à recepção deste hotel de terceira categoria em Havana.
Desaba o peso do corpo sobre uma poltrona vagabunda. Acende um charuto. Aceita com um meneio de cabeça a oferta do garçom : um copo de água mineral.
GGM acha que qualquer tempo concedido a repórteres é puro desperdício. Mas aceitara dar uma entrevista desde que o assunto não fosse literatura. Por imposição do entrevistado, o único tema permitido em nossa conversa seria o mais improvável e aparentemente mais desimportante de todos os assuntos por ventura merecedores de menção num diálogo com um prêmio Nobel de Literatura : o fascínio que as matinês de cinema exercem sobre ele até hoje.
Como todo grande escritor conquista o direito de exercitar pequenas excentricidades sem precisar dar explicações aos intrusos, GGM também determinou com antecedência o número de perguntas: somente seis. Nada além. Número cabalístico ? Jamais se saberá. Não pude perguntar. Não era este o assunto da entrevista.
Eis as descobertas de Gabriel García Márquez sobre as matinês:
“À hora da matinê – uma palavra francesa metida a empurrões no castelhano – ,no interior dos cinemas, respira-se uma atmosfera lúgubre. Parece que os passos ressoam menos no piso atapetado, mas a verdade é que os que assistem à sessão das três procuram, inconscientemente, passar despercebidos. “É o sentimento de culpa da matinê”, já disse alguém, definindo dessa maneira a atmosfera de mistério e clandestinidade que têm os cinemas às três da tarde”
“Um cinema à hora da matinê se parece a um museu. Ambos têm um ar gelado, uma quietude funerária. E, entretanto, é a hora preferida dos verdadeiros cinéfilos. O verdadeiro cinéfilo vai ao cinema sempre sozinho. Senta-se invariavelmente nas laterais da sala. Não mastiga chiclete nem come qualquer tipo de guloseima. Não lê jornais nem revistas, pois permanece nas nuvens, concentrando a tela com ar de concentrada estupidez até começar a projeção”
“Desaperta o cinto, desamarra os cordões dos sapatos e o nó da gravata e trata de apoiar os joelhos ou pôr os pés no espaldar da poltrona dianteira. Cinco minutos depois de começada a a projeção, pode estourar uma bomba no cinema que o verdadeiro cinéfilo não se dará conta”
“Vai também à matinê aquele a quem o cinema não tem a menor importância. É muito provável que a clientela das matinês diminuiria sensivelmente se os colégios secundários fossem fechados. Os estudantes que comumente vão ao cinema em grupos não têm outro interesse além de se refugiar em lugar seguro enquanto as aulas passam”.
“Como todos nós o fizemos alguma vez, é também muito provável que essa seja a origem do “sentimento de culpa” e da sensação de clandestinidade de que nós, adultos, padecemos na matinê. Devido a esse pequeno público, um cinema às três da tarde é o lugar mais seguro para um encontro escondido, para os amores secretos – por qualquer motivo – e para fugir a uma obrigação inadiável”.
” “Quando tiver um problema sem solução, vá à matinê´´, dizia, há algum tempo, o gerente de uma importante empresa ao chefe de relações públicas : na quarta-feira da semana seguinte, eles se encontraram à saída de uma matinê”.
Meia-noite e meia. Gabriel García Márquez disfarça o bocejo, mas, dois minutos depois, emite um suspiro de cansaço e impaciência, como a dizer que chega, basta, já tinha dito o que queria sobre o mistério das matinês, um assunto mais importante do que todas as inúteis teorias literárias.
Despede-se com um aperto de mão pouco convincente. Em vinte segundos, desaparece de vista, na penumbra de um corredor de hotel mal iluminado nesta noite de julho em Havana.
***************************
(*) PS: Tanto os encontros com Gabriel García Márquez em Havana quanto as perguntas da entrevista são imaginários : um exercício de realismo mágico amador. Mas as divagações de García Márquez sobre as matinês são verdadeiras : foram extraídas do texto “Por que você vai à matinê ?”, publicado no livro “Textos Andinos” (Editora Record)
http://g1.globo.com/platb/geneton/2009/09/16/o-melhor-conselho-do-mundo-quando-tiver-um-problema-sem-solucao-va-a-matine/
A fama cansa. Deixe-me em paz. Quero dormir – é o que diria, se quisesse ser brutalmente franco com o repórter que o importuna neste fim de noite.
Se pudesse escolher, García Márquez estaria dormindo o quarto sono agora. Mas o Prêmio Nobel é homem de palavra. Cumpre a promessa feita horas antes : depois de passar a tarde inteira falando a estudantes de cinema sobre os segredos da criação literária, como se os talentos da imaginação pudessem ser transmitidos numa sala de aula, ele chega sozinho à recepção deste hotel de terceira categoria em Havana.
Desaba o peso do corpo sobre uma poltrona vagabunda. Acende um charuto. Aceita com um meneio de cabeça a oferta do garçom : um copo de água mineral.
GGM acha que qualquer tempo concedido a repórteres é puro desperdício. Mas aceitara dar uma entrevista desde que o assunto não fosse literatura. Por imposição do entrevistado, o único tema permitido em nossa conversa seria o mais improvável e aparentemente mais desimportante de todos os assuntos por ventura merecedores de menção num diálogo com um prêmio Nobel de Literatura : o fascínio que as matinês de cinema exercem sobre ele até hoje.
Como todo grande escritor conquista o direito de exercitar pequenas excentricidades sem precisar dar explicações aos intrusos, GGM também determinou com antecedência o número de perguntas: somente seis. Nada além. Número cabalístico ? Jamais se saberá. Não pude perguntar. Não era este o assunto da entrevista.
Eis as descobertas de Gabriel García Márquez sobre as matinês:
1
Por que o senhor considera as matinês tão fascinantes ?“À hora da matinê – uma palavra francesa metida a empurrões no castelhano – ,no interior dos cinemas, respira-se uma atmosfera lúgubre. Parece que os passos ressoam menos no piso atapetado, mas a verdade é que os que assistem à sessão das três procuram, inconscientemente, passar despercebidos. “É o sentimento de culpa da matinê”, já disse alguém, definindo dessa maneira a atmosfera de mistério e clandestinidade que têm os cinemas às três da tarde”
2
O que é que diferencia, então, o frequentador de matinês dos das outras sessões ?“Um cinema à hora da matinê se parece a um museu. Ambos têm um ar gelado, uma quietude funerária. E, entretanto, é a hora preferida dos verdadeiros cinéfilos. O verdadeiro cinéfilo vai ao cinema sempre sozinho. Senta-se invariavelmente nas laterais da sala. Não mastiga chiclete nem come qualquer tipo de guloseima. Não lê jornais nem revistas, pois permanece nas nuvens, concentrando a tela com ar de concentrada estupidez até começar a projeção”
3
Pelo que o senhor conseguiu observar no escuro, como é que este cinéfilo se comporta depois de iniciado o filme ?“Desaperta o cinto, desamarra os cordões dos sapatos e o nó da gravata e trata de apoiar os joelhos ou pôr os pés no espaldar da poltrona dianteira. Cinco minutos depois de começada a a projeção, pode estourar uma bomba no cinema que o verdadeiro cinéfilo não se dará conta”
4
Mas não é possível que as matinês sejam povoadas somente por cinéfilos fanáticos. Quem é, então, que faz companhia a eles ?“Vai também à matinê aquele a quem o cinema não tem a menor importância. É muito provável que a clientela das matinês diminuiria sensivelmente se os colégios secundários fossem fechados. Os estudantes que comumente vão ao cinema em grupos não têm outro interesse além de se refugiar em lugar seguro enquanto as aulas passam”.
5
O fato de estudantes se refugiarem nas matinês para escapar das aulas explica o ar de estranha clandestinidade dessas sessões de cinema ?“Como todos nós o fizemos alguma vez, é também muito provável que essa seja a origem do “sentimento de culpa” e da sensação de clandestinidade de que nós, adultos, padecemos na matinê. Devido a esse pequeno público, um cinema às três da tarde é o lugar mais seguro para um encontro escondido, para os amores secretos – por qualquer motivo – e para fugir a uma obrigação inadiável”.
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Qual foi a melhor definição que o senhor já ouviu sobre as matinês ?” “Quando tiver um problema sem solução, vá à matinê´´, dizia, há algum tempo, o gerente de uma importante empresa ao chefe de relações públicas : na quarta-feira da semana seguinte, eles se encontraram à saída de uma matinê”.
Meia-noite e meia. Gabriel García Márquez disfarça o bocejo, mas, dois minutos depois, emite um suspiro de cansaço e impaciência, como a dizer que chega, basta, já tinha dito o que queria sobre o mistério das matinês, um assunto mais importante do que todas as inúteis teorias literárias.
Despede-se com um aperto de mão pouco convincente. Em vinte segundos, desaparece de vista, na penumbra de um corredor de hotel mal iluminado nesta noite de julho em Havana.
***************************
(*) PS: Tanto os encontros com Gabriel García Márquez em Havana quanto as perguntas da entrevista são imaginários : um exercício de realismo mágico amador. Mas as divagações de García Márquez sobre as matinês são verdadeiras : foram extraídas do texto “Por que você vai à matinê ?”, publicado no livro “Textos Andinos” (Editora Record)
http://g1.globo.com/platb/geneton/2009/09/16/o-melhor-conselho-do-mundo-quando-tiver-um-problema-sem-solucao-va-a-matine/
um dia como nenhum...
Sabe um dia sem cor, sem sabor, sem aroma, aquela vontade de vomitar todas as horas, como se elas não entrassem no roteiro da vida? Sabe aquela vontade de arrancar o coração da caixa do peito para que ele possa respirar? Sabe quando a cabeça não registra nada, parou, pifou, deu defeito ou tá oca? Sabe o que é pensar que haverá amanhã e depois, e depois, outros dias, que podem ser iguais a este?
Pois, Eu sei!
Pois, Eu sei!
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Encontro de gigantes
Exposição de Pixinguinha resgata documentário sobre a parceria do compositor com o poeta Vinicius de Moraes
Um dos maiores mestres do choro terá sua trajetória exposta na mostra Pixinguinha, em Brasília, de 13 de março a 06 de maio. Fotos, documentos e vídeos preencherão doze salas do Centro Cultural Banco do Brasil, idealizadas pela pesquisadora Lu Araújo, com o neto do artista, Marcelo Vianna, e o maestro Caio Cezar.
Um dos espaços será dedicado ao filme Sol Sobre a Lama, longa dos anos 60, dirigido por Alex Viany. Na época, o cineasta convidou Pixinguinha e Vinicius de Moraes para compor a trilha sonora. Assista ao documentário Nós Somos um Poema, produzido pela própria curadora da exposição, que recupera essa histórica parceria entre os dois gigantes da música brasileira.
O longa Nós Somos um Poema, produzido pela própria curadora da exposição, recupera esta histórica parceria entre os dois gigantes da música brasileira.
Um dos espaços será dedicado ao filme Sol Sobre a Lama, longa dos anos 60, dirigido por Alex Viany. Na época, o cineasta convidou Pixinguinha e Vinicius de Moraes para compor a trilha sonora. Assista ao documentário Nós Somos um Poema, produzido pela própria curadora da exposição, que recupera essa histórica parceria entre os dois gigantes da música brasileira.
"In Memoriam"
Esperanza Spalding gets her 'moment' at the Oscars
Photo of Esperanza Spalding onstage at the Academy Awards by Matt Brown / AMPAS EPA
As exhibited by the montage of actors swooning about how much they love movies, the Academy Awards aren't known for their subtlety. And yet, during Sunday night's "In Memoriam" segment, which in the past has been televised as a grief-by-applause-meter tribute, the academy put together a genuinely affecting moment thanks to a delicate performance of "What a Wonderful World" by last year's Grammy winner for new artist, Esperanza Spalding.
While a few Twitter commenters couldn't help noticing that yet again Spalding -- and by implication, jazz -- was confined to background music (a reference to the Grammys' puzzling decision to only let her perform at the 2011 telecast as part of a high school ensemble while Neil Portnow and "Glee's" Matthew Morrison spoke), this was another high-profile moment when the singer-bassist had an opportunity to shine, and she seized it with an understated grace.
With her Grammy follow-up album "Radio Music Society" due next month, this performance served as an elegant reminder of her talents -- as far afield from a Louis Armstrong ballad as they may venture outside Oscar's orbit.
Listen to Spalding's Academy Award performance backed by the Southern California Children's Chorus in a YouTube stream after the jump, and ask again if the Grammys really should've honored Justin Bieber.
Photo of Esperanza Spalding onstage at the Academy Awards by Matt Brown / AMPAS EPA
As exhibited by the montage of actors swooning about how much they love movies, the Academy Awards aren't known for their subtlety. And yet, during Sunday night's "In Memoriam" segment, which in the past has been televised as a grief-by-applause-meter tribute, the academy put together a genuinely affecting moment thanks to a delicate performance of "What a Wonderful World" by last year's Grammy winner for new artist, Esperanza Spalding.
While a few Twitter commenters couldn't help noticing that yet again Spalding -- and by implication, jazz -- was confined to background music (a reference to the Grammys' puzzling decision to only let her perform at the 2011 telecast as part of a high school ensemble while Neil Portnow and "Glee's" Matthew Morrison spoke), this was another high-profile moment when the singer-bassist had an opportunity to shine, and she seized it with an understated grace.
With her Grammy follow-up album "Radio Music Society" due next month, this performance served as an elegant reminder of her talents -- as far afield from a Louis Armstrong ballad as they may venture outside Oscar's orbit.
Listen to Spalding's Academy Award performance backed by the Southern California Children's Chorus in a YouTube stream after the jump, and ask again if the Grammys really should've honored Justin Bieber.
Chorei
E aí eu comecei a chorar.
Chorei porque o email era tão doce.
Chorei porque não havia palavra, nem minha nem sua, sendo dita.
Chorei porque a alma fez um silêncio tão pleno que eu não me cabia mais em mim.
Chorei pra sair de mim, daqui, do tempo.
Chorei sentindo o cheiro do riso, do sabor, das cores variadas ali, tão perto, além do espelho que me separa dessa eu que sei melhor que aquela ali, de olhos molhados.
Retrato em Branco e Preto (Chico Buarque)
Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retrato
Eu teimo em colecionar
Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retrato
Eu teimo em colecionar
Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
What Happened to Best Original Song?
Only two songs -- "Man or Muppet" from "The Muppets" and "Real in Rio" from "Rio" -- received nominations Tuesday morning, shutting out Elton John's work on "Gnomeo & Juliet," Pink's song in "Happy Feet 2" and Zooey Deschanel's track from "Winnie the Pooh." Madonna's song from "W.E." had already been ruled ineligible.
Unlike other categories, song nominees are determined by voting members of the music branch who watch sections of films where songs are played and nothing else. Since instituted, it has resulted in performance clips and animated songs being nominated but no end credit or background songs.
Voters assign each song a numerical score between 1 and 10, and if no song receives an average of less than 8.25, there are no nominees. If only one song tops the threshold, as clearly happened here, the next highest vote getter secures a nomination as well.
The music branch voters chose to honor Bret McKenzie of Flight of the Conchords for his Jason Segel-sung "Man or Muppet" and the songwriting trio of Sergio Mendes, Brazil's Carlinhos Brown and Siedah Garrett.
70-year-old Sergio Mendes told Billboard early last year, "Rio" was the first film for which he had specifically written music. Brown is a significant star back in Brazil whose music has been released in the U.S. by EMI.
The other music category had its surprises, too, specifically two nominations for composer John Williams, the seventh time he has been double-nominated in a category, most recently in 2005 for "Munich" and "Memoirs of a Geisha." When he has been double-nominated, he has only won once, for "Star Wars" in 1977.
Williams, a five-time winner, was nominated for his music in "The Adventures of Tintin" and "War Horse," and will go up against Ludovic Bource ("The Artist"), Howard Shore ("Hugo") and Alberto Iglesias ("Tinker Tailor Soldier Spy"). Shore has won three Oscars for his work on "Lord of the Rings" films; Iglesias has two previous noms and no wins; and Bource, whose score for "The Artist" won Best Score at last week's Golden Globes, is a first-time nominee.
The score nominees are all traditional, orchestral scores. Last year, Trent Reznor and Atticus Ross' electronic score for "The Social Network" shook up the Academy's traditional bent, but there was no second chapter, as their work on "Girl With the Dragon Tattoo" did not make the cut. "Extremely Loud & Incredibly Close" and "Moneyball" are score-heavy films up for best picture that did not secure music noms.
http://www.billboard.com/news/bret-mckenzie-s-man-or-muppet-wins-best-1006287752.story#/news/oscar-analysis-what-happened-to-best-original-1005966952.story
Unlike other categories, song nominees are determined by voting members of the music branch who watch sections of films where songs are played and nothing else. Since instituted, it has resulted in performance clips and animated songs being nominated but no end credit or background songs.
Voters assign each song a numerical score between 1 and 10, and if no song receives an average of less than 8.25, there are no nominees. If only one song tops the threshold, as clearly happened here, the next highest vote getter secures a nomination as well.
The music branch voters chose to honor Bret McKenzie of Flight of the Conchords for his Jason Segel-sung "Man or Muppet" and the songwriting trio of Sergio Mendes, Brazil's Carlinhos Brown and Siedah Garrett.
70-year-old Sergio Mendes told Billboard early last year, "Rio" was the first film for which he had specifically written music. Brown is a significant star back in Brazil whose music has been released in the U.S. by EMI.
The other music category had its surprises, too, specifically two nominations for composer John Williams, the seventh time he has been double-nominated in a category, most recently in 2005 for "Munich" and "Memoirs of a Geisha." When he has been double-nominated, he has only won once, for "Star Wars" in 1977.
Williams, a five-time winner, was nominated for his music in "The Adventures of Tintin" and "War Horse," and will go up against Ludovic Bource ("The Artist"), Howard Shore ("Hugo") and Alberto Iglesias ("Tinker Tailor Soldier Spy"). Shore has won three Oscars for his work on "Lord of the Rings" films; Iglesias has two previous noms and no wins; and Bource, whose score for "The Artist" won Best Score at last week's Golden Globes, is a first-time nominee.
The score nominees are all traditional, orchestral scores. Last year, Trent Reznor and Atticus Ross' electronic score for "The Social Network" shook up the Academy's traditional bent, but there was no second chapter, as their work on "Girl With the Dragon Tattoo" did not make the cut. "Extremely Loud & Incredibly Close" and "Moneyball" are score-heavy films up for best picture that did not secure music noms.
http://www.billboard.com/news/bret-mckenzie-s-man-or-muppet-wins-best-1006287752.story#/news/oscar-analysis-what-happened-to-best-original-1005966952.story
André Setaro, "um cinéfilo", "um comentarista", "um claudicante blogueiro"
O grande jornalista baiano Cláudio Leal, agora navegando em searas paulistas na redação do Terra Magazine, deu-me a honra de um perfil único sobre a minha pessoa quando do lançamento de meu livro Escritos sobre cinema. Não resisto a transcrever o que ele escreveu na revista eletrônica da qual é um dos editores. Não mereço tantos apupos e longe de mim querer me comparar ao grande ensaísta Walter da Silveira, que foi o maior de todos os tempos na Bahia de sempre. Sou apenas um cinéfilo, digo e repito. Um comentarista, se se quiser mais. O texto, porém, é um exemplo de estilo e de argúcia, e a sua leitura, não por mim, bem entendido, mas pela maneira de Cláudio Leal articular a sintaxe da língua pátria ao descrever a figura de um simples mortal. Com os anos de experiência que tenho, no sentido de estrada, de quilometragem rodada, posso dizer que muitos críticos são arrogantes e o exercício da crítica muitas vezes é um exercício da arrogância. Volto-me a Aliocha de Os Irmãos Karamazov. Eis o texto claudiolealiano, que, considero o melhor artigo que foi escrito acerca deste claudicante blogueiro.
André Setaro
O Negativo da Memória
Cláudio Leal
“Eisenstein me perdoe”. André Setaro dedilha um cigarro do bolso da camisa. “Não aguento mais rever o Encouraçado Potemkin. Quando aparece aquele marinheiro gritando com a mão na boca, eu já fico a favor dos oficiais”. Risos enevoados no parapeito da Faculdade de Comunicação (Ufba), em Salvador. “Apresento aos alunos: é uma obra-prima. E venho fumar aqui fora”. Barba de trotskista exilado, expressão rubra, a ironia apontada para dentro, Setaro profana o clássico soviético como quem esconde a devoção de quatro décadas a uma cachoeira de imagens.Os recortes de velhos artigos, empilhados em seu apartamento durante os anos de batucadas diárias na máquina Olivetti, se condensam nos três volumes de “Escritos sobre cinema – trilogia de um tempo crítico” (Azougue/Edufba). Esse patrimônio de coragem intelectual e de erudição ainda se sustenta numa dignidade rara nos ofidiários do jornalismo. Contra as vilezas provincianas, Setaro formou quatro gerações de leitores em sua coluna na Tribuna da Bahia, onde analisou os clássicos, as obras-primas nascentes, as pencas de lançamentos de Hollywood e, porque não é pecado, o corpo de Brigitte Bardot. Desde 2007 ele é colunista de Terra Magazine.Fundador do Clube de Cinema, em 1950, o advogado e ensaísta Walter da Silveira iniciou a formação de uma cultura cinematográfica na Bahia, irradiada pelas sessões do Cine Guarany, onde fazia romaria o jovem Glauber Rocha. A partir da década de 1970, Setaro passou a cumprir essa missão, desta vez como solitário herdeiro da “responsabilidade humana e social” da crítica, defendida por Walter da Silveira. Ele superou o mestre no conhecimento da linguagem cinematográfica, da estética, da montagem, do “específico filmíco”: a sintaxe que move o cinema e o autonomiza diante de outras artes, a manipulação humana capaz de tornar Lillian Gish (a atriz dos filmes de D.W. Griffith) em algo mais que o regador dos irmãos Lumière.
André Setaro carregou o cinema aos bares de Salvador, no aprendizado de Jeniffer Jones e cerveja, de Luis Buñuel e cigarro, os “recuerdos” precedidos de uma sentença: “Concordo com Buñuel: o homem é a sua memória”.
De André Bazin, o extraordinário crítico do Écran Français e dos Cahiers du Cinéma, Setaro extraiu o rigor da análise e a certeza de que “todos os filmes nascem livres e iguais”. Bazin é um herói para os que amam o cinema, não somente por ter desbravado uma linguagem à procura de reconhecimento, mas também por salvar François Truffaut do desamparo de um reformatório. Num paralelo menos dramático, André Setaro salvou a nós outros, desgarrados do centro do Brasil, de uma ignorância monumental da história do cinema, nos tempos pré-download.
Dizia Truffaut, em 1955, que nenhum “enfant de France” sonharia em ser crítico de cinema quando crescesse (ele trataria de assassinar a própria frase). Em sentido contrário, os textos e a personalidade de Setaro estimulavam os alunos a ambicionar a ginástica da crítica. O resultado tanto podia ser um amontoado de pedantismos quanto o início de um interesse sincero pelo estudo do cinema. Setaro sabe identificar os dois tipos de alunos. Não concebe um espectador sem escolhas afetivas, impulsos, paixões. E assim exerce o jornalismo: devoto do papel, da tinta pregada nos dedos. Há quatro anos, infartado, ele convocou uma ambulância. A pontada mais violenta nasceria nos minutos seguintes, ao lembrar-se que seu artigo seria publicado, naquele sábado, no caderno cultural de “A Tarde”. Sob o risco de morte fulminante, desceu à banca de revista, pagou o jornal e subiu a ladeira para esperar o médico.
O relicário de paixões se enrosca no passado. Morte de Marlon Brando, em 2004. Passo uma semana à espera de sua coluna, e apenas silêncio. Telefonema: “Setaro, quando sai o necrológio?”. Brota uma voz macia: “Não consegui. Vou lhe dizer a verdade: ainda não me recuperei”. No hospital, outra vez infartado, ele aguarda uma cirurgia. Por desgraça astrológica, Antonioni e Bergman morrem no mesmo dia: 30 de julho de 2007. Peço aos amigos para lhe preservarem da tragédia. Entro no quarto, Setaro levanta a mão direita, inconsolável: “Bergman e Antonioni morreram!”. Um espírito de porco lhe dera a notícia por telefone.
“Godardiano” educado pelas leituras “antigodardianas” do crítico do Correio da Manhã, Antonio Moniz Vianna, Setaro sustenta o anúncio da morte do cinema. Melhor dizer: um certo tipo de cinema. Nenhuma de suas teses provoca mais irritação do que esta de enterrar o cinematógrafo. Se provocado, ele desdobra com a morte do humanismo, como fez numa conversa:
– O cinema que morreu, na verdade, é o dos grandes inventores de fórmulas. Cristalizada a linguagem cinematográfica em meados dos anos 60, a sintaxe se tornou estilo de cada realizador, sem contar, evidentemente, os artesãos que apenas ilustram um roteiro. A formação pelo cinema, a educação sentimental pelo cinema e a educação pelo cinema acabaram. Neste sentido, o de formador de público, o cinema está morto e enterrado.
Sem distanciar-se da imprensa, André Setaro carregou o cinema aos bares de Salvador, no aprendizado de Jeniffer Jones e cerveja, de Luis Buñuel e cigarro, os “recuerdos” precedidos de uma sentença: “Concordo com Buñuel: o homem é a sua memória”. Nas mesas, a arte estava inseparável dos fracassos da vida que poderia ter sido, e foi. Homem de obsessões machadianas, Setaro é essencialmente memorialístico. A crítica não ocorre em sua vida como um acidente, mas uma reflexão do seu desprezo ao tempo. Na forma silenciosa com que observa as pessoas, o desejo de retê-las para sempre.
A imposição da lembrança como prazer e dor, que o aproxima da obra de Alain Resnais, empurrou-o uma tarde à sua Marienbad, a casa da infância no bairro de Nazaré: reviveu o corredor imenso, as correntes e o cheiro do ar condicionado do Cine Guarany, o jambo da antiga Faculdade de Filosofia, a banca de Seu Paranhos, as árvores, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, a figura do Padre Lemos. A casa resistia, apesar das esquadrias de alumínio. Inspirado pelo escritor Pedro Nava, descreveu uma outra vez cada detalhe do antigo Cinema Pax, na Baixa dos Sapateiros. “Escritos sobre cinema” recompõe André Setaro no exercício da crítica e da memória. O que prevalece é a trajetória de um olhar, o mesmo que insiste em retornar aos corredores da infância, ainda inviolado pelo primeiro filme de Catherine Deneuve.
A imagem é do blogueiro reclamando com um dono de bar que o botou para fora por estar fumando seu cigarrinho.
novo endereço do blog:http://setarosblog.com.br/
O blogueiro sendo entrevistado
postado por Setaro em Sem categoriaUma entrevista feita comigo pela bela entrevistadora Sophia Mídian Bagues para a TV Ufba há dois anos atrás. Bato sempre na mesma tecla, embora digite em teclas variadas. De qualquer forma e de qualquer maneira, o Carnaval acabou e, como sou ateu, gostaria de dizer: Graças a Deus! O Carnaval baiano não existe mais como era no passado. Quem tiver paciência, ouça-me no vídeo.
Read more: http://setarosblog.com.br/#ixzz1nbATUt5R
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Oscar's Original Song Snub
'Rio's' Siedah Garrett on Oscar's Original Song Snub: 'People Are Not Happy'
Getty Images
The Academy Award-nominated songwriter, best known for Michael Jackson's "Man in the Mirror," talks about this year's two-song contest and how "Real In Rio" came to life.
Songwriter Siedah Garrett has a 50 percent chance of winning an Oscar on Sunday night. Her nomination, for best original song for “Real in Rio” from the animated movie Rio, is one of only two compositions recognized by the Academy this year.
She’s not complaining, of course. The music slight on this year’s broadcast means more attention for her (and her competitor, Flight of the Conchords’ Bret McKenzie, who wrote “Man or Muppet” from The Muppets), even if it does enrage the music industry.
“I know that after this year, the rules are going to change,” Garrett, who is best known for writing Michael Jackson’s “Man in the Mirror,” tells The Hollywood Reporter. “There are a lot of people that are not happy with the way things are right now, even members.”
PHOTOS: 2012 Academy Awards: The Nominees
The rules she’s referring to are the Academy’s requiring that a song gather the majority of the members’ votes in order to be considered. It also must play an integral role in the film -- so Mary J. Blige’s “The Living Proof” from The Help and Madonna’s “Masterpiece” from W.E., both didn’t make the cut.
But “Real in Rio,” written by Garrett, with Sergio Mendez and Carlinhos Brown, was composed specifically with a scene in mind: the opener. “It had to represent the lushness of Rio, the birds, the animals, the architecture, the sights of Rio de Janeiro, not just the tourist spots,” says Garrett. “It’s a really rich culture and they have a fun, soulful spirit so it was my job to capture and marry that music with the scene.” Garrett likens an original song in a movie to that of a “third actor in the scene, because if often delivers emotions and ideas the characters in the scene can’t just overtly say.”
Neither of the two nominated songs will be performed on Sunday night, a disappointment to all who worked on the music, some for as long as several years. “I'm bummed about it, just like I was five years ago when I got to go to the Oscars and they stopped giving out the gift baskets,” Garrett, who was previously nominated for Dreamgirls, cracks. “I was really sick about that and now I won’t be able to perform with Sergio Mendes at the Oscars, it’s kind of crazy.”
VIDEO: Golden Globes 2012: Elton John's Husband Blasts Madonna's 'Best Original Song' Win
But that doesn’t diminish the excitement -- and anxiety -- that comes with just being there. “I don't really have a set idea of what I'm wearing yet and I've been running around picking dresses and shoes,” says Garrett, catching her breath. “But darling, trust me, I will be fab.”
Up next for Garrett: she hopes to make an encore appearance in Rio 2, which is currently being animated, she says, and is using a fan-funded model to finance a new album. Among the tracks she plans to include: an answer to her 1987 duet with Michael Jackson, "I Just Can't Stop Loving You," called “Keep On Loving Me.” Says Garrett: “It’s a tribute to a man that brought so much joy, entertainment, music, and energy to all of our lives, especially mine. It’s my thanks for him introducing me to the world, really.”
http://www.hollywoodreporter.com/news/oscars-original-song-rio-siedah-garrett-293947
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“I know that after this year, the rules are going to change,” Garrett, who is best known for writing Michael Jackson’s “Man in the Mirror,” tells The Hollywood Reporter. “There are a lot of people that are not happy with the way things are right now, even members.”
PHOTOS: 2012 Academy Awards: The Nominees
The rules she’s referring to are the Academy’s requiring that a song gather the majority of the members’ votes in order to be considered. It also must play an integral role in the film -- so Mary J. Blige’s “The Living Proof” from The Help and Madonna’s “Masterpiece” from W.E., both didn’t make the cut.
But “Real in Rio,” written by Garrett, with Sergio Mendez and Carlinhos Brown, was composed specifically with a scene in mind: the opener. “It had to represent the lushness of Rio, the birds, the animals, the architecture, the sights of Rio de Janeiro, not just the tourist spots,” says Garrett. “It’s a really rich culture and they have a fun, soulful spirit so it was my job to capture and marry that music with the scene.” Garrett likens an original song in a movie to that of a “third actor in the scene, because if often delivers emotions and ideas the characters in the scene can’t just overtly say.”
Neither of the two nominated songs will be performed on Sunday night, a disappointment to all who worked on the music, some for as long as several years. “I'm bummed about it, just like I was five years ago when I got to go to the Oscars and they stopped giving out the gift baskets,” Garrett, who was previously nominated for Dreamgirls, cracks. “I was really sick about that and now I won’t be able to perform with Sergio Mendes at the Oscars, it’s kind of crazy.”
VIDEO: Golden Globes 2012: Elton John's Husband Blasts Madonna's 'Best Original Song' Win
But that doesn’t diminish the excitement -- and anxiety -- that comes with just being there. “I don't really have a set idea of what I'm wearing yet and I've been running around picking dresses and shoes,” says Garrett, catching her breath. “But darling, trust me, I will be fab.”
Up next for Garrett: she hopes to make an encore appearance in Rio 2, which is currently being animated, she says, and is using a fan-funded model to finance a new album. Among the tracks she plans to include: an answer to her 1987 duet with Michael Jackson, "I Just Can't Stop Loving You," called “Keep On Loving Me.” Says Garrett: “It’s a tribute to a man that brought so much joy, entertainment, music, and energy to all of our lives, especially mine. It’s my thanks for him introducing me to the world, really.”
http://www.hollywoodreporter.com/news/oscars-original-song-rio-siedah-garrett-293947
Carlinhos Brown - Conexão Roberto D'Avila (19/02/2012)
O Conexão Roberto D'Avila exibe a entrevista com o cantor e compositor Carlinhos Brown.
Na conversa com Roberto d'Avila, o artista externa seu mundo de "baianidade"e de grande criatividade, que fazem dele um dos mais férteis compositores brasileiros.
No programa, Carlinhos conta a sua história, os seus primeiros mestres, a admiração por Sérgio Mendes -- com quem compôs a trilha sonora do filme Rio e que concorre ao Oscar de melhor música de 2012 -, além de sua particiação nos Tribalistas, ao lado de Marisa Monte e Arnaldo Antunes.
É uma entrevista engraçada, alegre e cheia de inventividade, digna da personalidade de Carlinhos Brown.
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Um abraço à Portugal
António Salvado - "Das cicatrizes"
Um abraço e meu agradecimento à Portugal e portugueses, que chegam e aquecem
meu coração,
António & Pedro Miguel Salvado
(...) "Por cá isto anda muito mal. Estamos dominados pela crise e sujeitos a um controlo feroz e desrespeitador da dignidade dos povos por parte do capitalismo ultra liberal que tudo seca e destrói. Porem a utopia ainda não é palavra de âmago proibido.
Há que resistir unindo todos os mares-magmas da esperança em melhores dias que dignifiquem o Homem e as suas circunstâncias."
regina
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