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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Não Aprendi Geografia

 


Porque foi assim. Ele. Como se fosse fácil. Como se fosse sempre. Como se fosse antes. Como se fosse leve. Como. Simples. Palavras que são estrada. Escrevo, porque o que mais pode fazer quem tem o corpo no exílio? São palavras porque não é o estender minha mão e tocar o dorso da tua. São palavras porque não é esbarrarmos os ombros quando andamos distraídos de nós mesmos. São palavras porque não é o sentar no chão, rir alto, entrelaçar dedos. São palavras porque não é café, cama, cadeira de plástico. Porque não é cotidiano. São palavras porque não são, não podem ser, pele, cheiro e gosto. Procuro palavras. Das que você pode afagar, que façam quase possível tocar a letra como se corpo fosse. Então, o ritmo. Um-dois, Um-dois, Um-dois, rodopio. Um-dois, Um-dois, rodopio. Põem-me tonta. Um jeito de dançar, sem que se esteja em um abraço. Que antecipo. Faço-me vitral: pedaços cortantes de uma beleza possível. Recolho fragmentos: frases, músicas, memórias. Monto um quebra-cabeça de mim mesma que dá em nada. Gosto de ser uma espécie de check-list do seu querer. Com pontos fora da curva, para que o olhar me procure. Eu ontem o vi. Ou inventei. Porque eu quase encostei minha cabeça em seu peito, mas era apenas luz, sombra, letras e a minha vontade. Eu quero. Quero que me leia em braile. Que me reinvente. Defina espaços, curvas e reentrâncias. Quero que me conte do que eu já não sabia de mim. Quero que me desarrume as malas, os planos, o cabelo, quero que me desarrume o vestido. Quero não querer tanto não estar onde estou. Faço confissões dos pequenos saberes: uma panela, uma canção, uma memória. Sei dos terremotos. O quê? Eles se repetem. Sei mais um tantinho: não se previne terremoto. O que se faz é tentar sobreviver. Vou tentando sobreviver de vislumbres. Pedaços d'alma no espelho. Improviso. Não pode ser mau improvisar, faz de conta que o viver é música. Um jazz. Sem platéia, improviso o fogo. Livre. Mas com vontade das amarras. Do plano. Do amanhã conhecido entre braços. Poder dizer: quero. Fico perdida nos princípios. Sou rápida demais. Voraz demais. Ansiosa. Precipitada. Quero ser personagem nos seus olhos. Quero que ele me diga. Porque ele me vê e eu existo. Mas não só. Quero, porque ele me viu. Eu já existia, ali, pra ele, antes mesmo de saber. Desassossego, que linda palavra. Agora, nada sei. Não sei dizer, não sei calar. Espero. E o corpo espera. Espera o encontro, o abrigo, espera a vez dele. Espera, principalmente, um tempo em que não precisará esperar. Espero o que nem sei e tenho medo de ter entendido tudo errado. Entendi? Errado? Eu sei que quero muito e tudo e logo e não é assim que as coisas acontecem. Mas são assim que elas me acontecem.


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