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sábado, 4 de fevereiro de 2012

De outros carnavais

 Aninha Franco

postado por Kátia Borges @ 11:47 AM
4 de fevereiro de 2012


Com todos os problemas de comunicação, a Baía (miolo da Bahia), é uma nação onde em fevereiro tem Carnaval. Ainda que chova canivete e que mês de fevereiro não haja. Festa religiosa criada pelos gregos e apurada pelos romanos, o Carnaval foi aperfeiçoado pelo Brasil de tal maneira que, hoje, é seu melhor espetáculo. Em 1951, ano de boas safras, Dodô & Osmar puseram o trio elétrico nas ruas e permitiram que o Carnaval as percorresse, tapete musical, da Castro Alves ao São Pedro, com milhões de foliões voando atrás.
Os foliões eram operários, estudantes, intelectuais e artistas. As famílias assistiam em bancos amarrados aos postes, com farnéis de comer e beber. Entendi a chegada de um ovni quando vi a Caetanave subir a Ladeira da Montanha, iluminando a escuridão, emitindo sons, o frevo de Pernambuco e as trilhas de Gil e Caetano, com a constatação de que só os mortos não acompanhariam aquilo. Foi um momento de resistência vital à ditadura, nomeado pelo poeta Torquato Neto de Grande Zorra, e aqueles que interagiram com ele devem ter assistido aos anjos e à besta do após-calipso aderirem a Sodoma e Gomorra da escadaria do Palácio dos Esportes da Castro Alves.
Agrande zorra esmaeceu com o início do fim da ditadura. Em 1986, quando o último militar – José Sarney – assumiu a república, Luiz Caldas e Gerônimo trouxeram outra música, sucessora da salsa, surgida, segundo Guido Araújo, em Porto Seguro, e espalhada pelo planeta. Professores de cursos pré-vestibular, Boulhosa, Nery, ensinaram os alunos a consumir o som nos clubes esvaziados, e bandas de rock colaram no novo som.
Em 1990, Camaleão e Chiclete com Banana saíram juntos com 2.500 foliões, 159 cordeiros, vistos pela imprensa como “lobos maus”, carro de apoio com um médico e duas enfermeiras. O acesso ao bloco exigia ficha limpa do folião e pagamento de cinco mil cruzados novos. Era um negócio da indústria cultural que poderia, organizado, produzir empregos para artistas, empresários, técnicos e pequenos negociantes. Precisava de um nome e de uma musa, como Nara foi da Bossa Nova e Gal do Tropicalismo. Eles virão na próxima Trilha.

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