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segunda-feira, 30 de abril de 2012
Novo colunista na CC
Prezado amigo Afonsinho
Para quem se inspira no futebol atual, coalhado de craques tão milionários quanto alienados, pode ser incompreensível a trajetória do ex-jogador Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho. Apesar do estilo de jogo refinado e toque de bola impecável exibidos em grandes clubes brasileiros (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Santos, entre outros), Afonsinho ficou conhecido por ter sido o pioneiro na luta pelo passe livre. Isso em pleno ano de 1971, com a ditadura a todo vapor. No Botafogo, primeiro liderou os companheiros de time em uma campanha pelo pagamento de prêmios atrasados. Algum tempo depois, foi impedido pela diretoria alvinegra de jogar enquanto mantivesse o visual “subversivo”: cabelo comprido e barba. Indignado com a arbitrariedade, entrou na Justiça em busca do passe livre. E ganhou. Sua atitude abriu caminho para outros jogadores lutarem por direitos trabalhistas e mereceu de Gilberto Gil a música Meio de Campo (Prezado Amigo Afonsinho, eu continuo aqui mesmo…, diz a primeira frase). A partir de maio, Afonsinho assumirá a coluna Pênalti em -CartaCapital, espaço ocupado por mais de uma década por Sócrates, morto em dezembro passado. Há muita semelhança entre os dois craques: ambos cursaram Medicina, eram amigos e usaram o futebol como instrumento de defesa da cidadania. “Sócrates tinha posições bem claras. Sou mais intuitivo”, compara o ex-jogador de 65 anos, que se diz profundamente honrado em substituir o “Doutor” nas -páginas da revista.
CartaCapital: É possível fazer uma relação entre o seu jeito de escrever e aquele do Sócrates?
Afonsinho: O Sócrates -rapidamente chegava a uma apreciação -profunda, parece que via em raio X. Em todos os momentos da vida se mostrava bem definido, como seu estilo de jogo. O futebol dele era retilíneo, até o corpo tinha ângulos agudos. Tanto no campo quanto na vida, Sócrates tinha posições bem claras. Eu sou mais sensível que inteligente, sou mais de sacar -coisas do que aprofundar um -raciocínio, mais intuitivo.
CC: Acompanhou de perto a Democracia Corintiana?
Afonsinho: Sim. Foi um movimento vitorioso também dentro de campo. Então, ninguém pode contestar. No futebol, o resultado é determinante. Quando se ganha, muita coisa errada passa e na derrota mesmo o que está certo vai por água abaixo. Ficou provado: é possível organizar os jogadores de forma diferente e ganhar os jogos. Foi um marco, algo extraordinário não só para o futebol, mas também para a sociedade.
CC: Há um paralelo entre a Democracia Corintiana e a sua luta pelo passe livre?
Afonsinho: A minha atitude em relação ao passe tinha a ver com a situação política do momento. Aquelas discussões tiveram importância porque era tudo fechado, então foi uma oportunidade de se abrir um espaço de debate. Aquilo tomou um vulto muito grande. Chegou ao ponto de as dondocas da sociedade discutirem o que achavam de um jogador usar barba e cabelo grande.
CC: O senhor já tinha participação política, não é?
Afonsinho: Estava na faculdade de Medicina quando o estudante Edson Luiz foi morto. Participei da missa dele. Sempre tive atuação política. Cheguei a participar de uma reunião onde foi discutida abertamente a possibilidade de entrar para a luta armada. Não fui porque eu e alguns outros não tínhamos a menor condição prática de entrar numa dessas.
CC: Como a ditadura mexeu com o futebol?
Afonsinho: O Brasil ganhou a Copa de 70 e depois ficou 24 anos sem ser campeão mundial. Há quem atribua a Jules Rimet ao regime. Para mim, aquela Copa é uma vitória da geração de 58 e 62, a própria formação dos jogadores foi baseada nessas equipes. Ninguém comenta o jejum de mais de duas décadas como consequência da ditadura.
CC: O modelo da CBF ainda tem muito da antiga CBD, não?
Afonsinho: É uma coisa terrível, porque a organização do futebol é medieval. O sistema de ligas, federações e confederações é estruturado dessa forma anacrônica. Isso persiste. Na federação mineira era o coronel Guilherme. Ele saiu ficou o filho. Na Paraíba, saiu o coronel de lá e ficou a mulher. Continua assim.
CC: O que acha do futebol ter se tornado um meganegócio em todo o mundo?
Afonsinho: O volume de dinheiro explodiu, mas à medida que injetam mais recursos no futebol, o espetáculo empobrece. Independentemente do tipo de organização, o clube é a razão de ser, pelos torcedores que mobiliza. Se o cartola vende a camisa de um clube para uma determinada marca, é o torcedor sendo visto como consumidor. E qual a participação dele quando se decide o horário dos jogos, qual emissora vai transmitir, qual a cor da bola? Quando o dirigente vende a transmissão ou a camisa para uma marca de fabricante, está negociando o torcedor. E o cara não tem nenhuma participação ativa nisso.
CC: Isso atrapalhou a essência do esporte?
Afonsinho: A relação dos jogadores com a bola hoje é diferente. O Flamengo passou dez jogos sem vencer uma partida, era como se não estivesse acontecendo nada. No Palmeiras a mesma coisa. Eles parecem não ter mais relação com o jogo em si. É o espírito do neoliberalismo transportado para o campo. Cada atleta é uma empresa, tem relações públicas, administrador… Uma coisa fria. Não se relacionam bem. E a coisa mais linda que existe no futebol é a relação dos jogadores entre si. A maneira como fui tratado por craques como Didi, Nilton Santos, Zizinho, era uma coisa de igual para igual.
CC: O Brasil vai conseguir realizar uma boa Copa em 2014?
Afonsinho: É um momento propício a mutretas. É assim: você aceita as regras e tem a Copa, ou não aceita e não tem a Copa. Optou-se por fazer. O Lula apostou nisso. É preciso então encarar de frente, aprofundar a fiscalização. Essa é uma oportunidade de ter alguns avanços na infraestrutura aeroportuária, transportes. Acho que, obrigatoriamente, vai se melhorar alguma coisa.
CC: E a Seleção Brasileira? Tem chances?
Afonsinho: O Brasil sempre faz um bom time, mas até agora não há nada que justifique grande animação. Dois anos para fazermos uma Seleção de verdade é muito pouco. O que eles fizeram? Por dois anos usaram a Seleção para mostrar, valorizar, negociar jogadores. Foram dois anos de esculhambação, não havia ideia de time para ganhar a Copa. Era algo deliberado. A CBF tem essa estratégia de negócios mesmo, porteira escancarada.
CC: E o Mano Menezes, o que acha dele?
Afonsinho: Ele não foi colocado lá para ficar. Assim como o Dunga também não foi colocado para ficar, mas acabou complicando por ter conquistado a Copa das Confederações. Depois, o ciclo se completou mal.
CC: O que o leitor de CartaCapital pode esperar de suas colunas?
Afonsinho: Posso dizer que vou me colocar de coração, mas vou levar a racionalidade até onde conseguir. Vou manter minha linha mestra de vida: ser coerente.
O documentário Passe Livre discute, entre outros, a importância de Afonsinho para o futebol:
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/prezado-amigo-afonsinho/
domingo, 29 de abril de 2012
Para Uma Menina Com Uma Flor
Para uma Menina com uma Flor
Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino,
o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.
E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte
eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta,
e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena;
é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha
- a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.
E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.
Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino,
o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.
E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte
eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta,
e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena;
é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha
- a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.
E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.
E Por Falar Em Saudade...
...onde anda você?
e
por falar em paixão, em razão de viver,
você bem que podia me aparecer,
nesses mesmos lugares, na noite,
nos bares, aonde anda você?
“O
único poeta que viveu como poeta”, disse Drummond. E como poeta morreu. Ou
ainda: ele era um amor. E mais, ele era o amor. O amor nem sempre chega na hora
certa nem nos dá o que esperamos. Aliás, quase sempre o amor nos surpreende. Mas
é também ele, amor, que nos comove, que nos faz ser tanto, que nos exige e nos
alegra, que nos excita e transforma. Que nos faz cada vez mais nós mesmos sendo
cada vez mais outros. Então, Vinícius.
Teve
mulheres, muitas, todos sabemos. E as amou de forma tal que enternece pela
entrega absoluta. Que mal há em saber o amor temporário se o sabemos eterno na
sua duração? Era sua forma de estar no mundo, este coração nos olhos, na mão, na
bandeja. Esta sede do outro. Ele sabia-se para encontros. Porque era de tantos e
a tantos se dava. Foram vários os parceiros como Tom Jobim, Carlinhos Lyra,
Baden Powell, Toquinho, Chico Buarque, Pixinguinha, e diversas as pessoas com
quem dividiu palco e disco: Maria Creuza, Quarteto em Si, Maria Bethania, Clara
Nunes...Amar não lhe era pesado. Vinha fácil. Punha brilho no olho e beleza nas
letras.
Vinícius
correu o mundo e fez do mundo todo sua mesa de bar: lugar de risos, afetos,
intimidade e samba. Encantador, sabia-se fazer amado, mas amor com amor pagava e
era um encantado pela vida. E pela vida no outro. E pela vida no
outro.
Não
farei biografia, há lugares em demasia pra saber em que dia e hora nasceu ou
morreu, que foi diplomata, crítico e sei lá mais quê antes, durante e depois de
ser o poeta que era sempre. Não vou listar canções e poemas que me fazem ser sem
pele e sentir em tal intensidade que morrer não é idéia que se descarte. Não
direi da identidade que me deu com seu Para Uma Menina Com Uma Flor nem
explicarei porque minha filosofia de vida é a letra de uma canção sua: “porque a
vida só se dá pra quem se deu, pra quem chorou, pra quem amou, pra quem sofreu”.
Não falarei do seu Orfeu, tão meu, que deu ritmo à peregrinação que é sempre
amar: ir ao Inferno, encontrar quem amamos e deixá-lo lá. Não mencionarei seu
lirismo, sua capacidade de fazer simples o sublime e sublime o corriqueiro e de
dar a tudo os ares do atemporal e, ainda assim, rotineiras imagens.
Só
o que quero é dizer que o amo. Amo-o pelo que explicitamente escreveu e pelo que
não foi claro, pelo que produziu e pelo que me deixou a desejar, pelo que era e
pelo que fazia ser. Havia, em seus olhos, beleza. Foi poeta, podia ter sido,
talvez, mergulhador, sabia ser leve e profundo, ver - onde havia demasiada
pressão - graciosidade e encanto, sabia mergulhar com coragem onde ninguém ia e,
também, fazer dos espaços onde se vai todo dia sem perceber, lugares de encontro
e deslumbre.
Há
talvez, quem torça o nariz pro Vinícius. Eu respeito, mas não passo nem perto de
entender. Porque não há nada no mundo que me pareça mais digno de letras que o
amor. Nada mais real que amar. E ele era um amor. Era, talvez, o amor. Tá na
hora de rever o menino bochechudo, nú e com flechas, estou a pensar que o amor é
um senhor com um copo de uísque na mão.
White House Correspondents’ Dinner: The party Twitter loves to hate
Mila Kunis and Wolf Blitzer at the White House Correspondents' Dinner, April 30, 2011. (Alex Brandon/AP)
Generally speaking, there are two kinds of people in this world: those who get invited to the White House Correspondents' Association dinner--the annual gathering of celebrities, politicians and media in Washington--and those who do not.
Those who get invited to so-called "nerd prom" get drunk, get starstruck, and get on Twitter to post photos of George Clooney--without noticing New Jersey Gov. Chris Christie in the same frame.
The people who do not get drunk, get mad and get on Twitter to rip the people who do. Happens every year.
But the outsiders--perhaps mirroring the tone set by the traditional roasts delivered by President Obama and host Jimmy Kimmel at Saturday's 98th annual dinner--seemed a tad more vicious this time.
"It is the single most revolting annual gathering of pseudojournalistic &*&*suckery in all the land," Gawker's Hamilton Nolan wrote. "The White House Correspondents' Association Dinner is a shameful display of whoredom that makes the 'average American' vomit in disgust." Nolan was not invited.
"I ask one question every year," CBS News' Mark Knoller (who was invited) wrote. "Who are all these people? Didn't see any of them covering [the president] at Ft. Stewart yesterday."
"The White House Correspondents' Dinner underlines everything that's systemically wrong with American journalism," Milo Yiannopoulos, editor of Kernal magazine, wrote. "The purpose of a free press is to hold the powerful to account. You can't do that if you're sucking up, hoping for swanky dinner invitations."
"This has become such a happening, such an event, the nerds can't get in anymore," the Washington Post's "Reliable Source" columnist Amy Argetsinger observed.
It wasn't always that way: the White House Correspondents' Dinner used to be a chance for the "nerdy" reporters to dine with their political sources. It's now become D.C.'s schmooze-y answer to the Oscars, and inspires nearly as much hate.
"Is the fawning, sycophantic worship service to wealth, power and celebrity over?" Politico's Ben White pondered early Sunday. "Or is there more crap today?"
Jimmy Kimmel high-fives the president at WHCD 2012. (AP)
[ Highlights from the 2012 White House Correspondents' Dinner ]
"Celebrities and red carpets have ruined #NerdProm," the Stuff Journalists Like Twitter feed noted. "The real nerds are at home, tweeting about the #WHCD."
"With Lindsay Lohan and Kim Kardashian attending the White House Correspondents' Dinner," @JournalistsLike added, "I'm pretty sure we can stop calling it the #NerdProm." Lohan and Kardashian were invited by Fox News.
"The WHCD is indistinguishable in tone from the Oscars," Yiannopoulos wrote. "That should terrify the American people."
It scared Sallie Cunningham of Madison, Wisc., who tweeted: "WHCD confirmed my loss of faith in the media. Trust in media and politicians @ all-time low & plummeting."
Perhaps all the vitriol was justified.
"You know it's been a good party when George Clooney bearhugs you farewell at 3 a.m.," CNN's Piers Morgan wrote on Twitter. "Thanks @goldiehawn--you were a fabulous date!"
"Loved meeting @Diane_Keaton at #WHCA dinner last night," Wolf Blitzer--who brought actress Mila Kunis as his "nerd prom" date last year--tweeted. "She watches @CNNSitRoom."
"After the dinner I met for the first time NBC's Ann Curry and Al Roker," Fox News' Greta Van Susteren, who invited Lindsay Lohan to the event, wrote in between tweets about Kardashian and Lohan. "Both were extremely nice--just as they are on TV. I had been told that Ann Curry was nearby and went looking for her. I wanted to talk to her because she had been to the Nuba Mountains in Sudan about a month before I was there."
"Reese Witherspoon at my table, quite pregnant," Howard Kurtz, host of CNN's "Reliable Sources," reported. (Earlier, Kurtz boasted about a gift bag from one of the WHCD pre-parties: "Swag bag from People party already legendary: hundreds of dollars of lotions, candies, books and assorted goodies.")
"Omg!" partygoer @DCDebbie wrote. "Rachel @Maddow just made me a drink! #NerdProm."
http://news.yahoo.com/blogs/cutline/white-house-correspondents-dinner-party-twitter-loves-hate-182932546.html
Na cozinha, como se estivesse no mar
Trinta anos atrás, Lucius Gaudenzi começou a pegar onda neste mesmo mar que agora avista. Aos 12, ele já competia profissionalmente. Foram muitos treinos, tombos e campeonatos até que decidisse abandonar a carreira, aos 25. Trabalhou um tempo como auditor financeiro, mas, apesar do gosto que tinha pela matemática, sempre soube que aquela não era a sua paixão. Reencontrou-a nas lembranças das farras que aprontava na cozinha de casa e das idas ao restaurante do pai. Já tinha feito um curso de gastronomia na época em que serviu ao Exército, mas, para cozinhar profissionalmente, encasquetou de estudar na melhor escola. Foi pesquisar na internet os países onde havia filiais da francesa Le Cordon Bleu e acabou parando na Austrália, para não ter que deixar de vez o surfe. Ele acaba de concluir o curso e pretende voltar a morar no Brasil, depois de oito anos vivendo no exterior. “Minha ideia é aplicar as técnicas que aprendi na culinária brasileira”, conta, mais que saudoso dos sabores da terra, de “mainha” e do filho, de 7 anos. Até na cozinha, o espírito surfista não o abandona. “Você vê esse monte de chef brabo, furioso, mas se você pega onda de manhã e depois vai trabalhar, não tem como ficar estressado… Quando estou cozinhando, sempre coloco uma música gostosa para tocar e tento levar no mesmo ritmo, como se estivesse no mar”.
Em seu blog, Luicius compartilha viagens e receitas, como a do Spaguetti com camarões na manteiga ao molho de manjericão e alho. Anote:
Ingredientes
250 g de camarões
25 ml de azeite
25 g de manteiga
1 dente de alho picado
5 folhas picadas e 5 inteiras de manjericão fresco
100ml de vinho branco
1 pitada de sal e pimenta preta
Modo de preparo
Tempere os camarões com sal e pimenta, aqueça a panela e adicione o azeite, cozinhe os camarões 2 minutos de cada lado ou até ficarem dourados, ‘deglaze’ com vinho, reduza em 2/3, adicione o alho, o manjericão picado e a manteiga. Sirva com qualquer pasta cozida al dente
http://revistamuito.atarde.uol.com.br/
A majestosa Cidade Velha
Avisita começou pela Rocinha, agora um matagal que frequentei nos tempos em que era um buraco do reggae, e de onde, um dia, precisei correr, com Márcia Ganem e Gil Maciel, porque quando um regueiro cantou que Selassie era um rei que gostava de reggae, eu gritei que, além de reggae, ele gostava de matar e torturar. A obra da Rocinha está prometida para já e urge que o PAC faça do espaço moradia digna para as famílias que de lá saíram para facilitar a construção. Li que apenas 7% dos 100% das obras do PAC caminharam.
Se há dinheiro, é tempo de aumentar a porcentagem, fazendo da nova rocinha habitação, espaço para o lazer das crianças e oficinas para a sobrevivência das famílias que para lá voltarão. Sobrevivência que pode estar no próprio Centro Histórico, bairro vertical e colonial, esperando que o negócio do turismo se aperfeiçoe, se requinte em bons serviços e programações adequadas, como uma indústria de turismo bem-sucedida exige. Da Rocinha, caminhamos por ruas de casas reformadas, ruas de casas a reformar, vazios idealizados que as próximas Trilhas contarão se assim os Orixás quiserem, e eles haverão de querer, porque amam este lugar que tão bem lhes recebeu.
http://revistamuito.atarde.uol.com.br/
sábado, 28 de abril de 2012
Vevé Calasans sobe ao céu
Armandinho Macêdo - É D'Oxum (Geronimo Santana-Vevé Calasans) Salvador-Bahia
Escrúpulos - MÔNICA WALDVOGEL
Num sábado de manhã, quando eu tinha uns
catorze anos, meus pais me chamaram para acompanhá-los ao centro. À cidade, como
se falava naquela época. Um convite que não fazia o menor sentido. A troco de
quê tomar ônibus e metrô com meus pais para visitar meia dúzia de lojas sem o
menor interesse? Nem pensar! Mas eles me obrigaram a ir.
Eu fui uma adolescente bem chatinha. Sendo a mais velha de cinco filhos, cabia a mim enfrentar a linha-dura lá de casa. Como não havia muito espaço para grandes transgressões, usava todas as oportunidades para deixar bem claro aos meus pais que eu não era como eles, não pensava como eles nem teria a vida deles. Uma típica rebelde de classe média.
Naqueles dias meu comportamento variava das pequenas hostilidades às grandes contestações verbais cuidadosamente anotadas num diário mal escondido para que, se encontrado, minha mãe pudesse ler e se magoar à vontade. Coisa que aconteceu, claro, e fez rolar muitas lágrimas.
Voltando àquele sábado. Eu estava num desses estados insuportáveis que, entre mil e uma razões, diziam respeito à sanha com que tentava domar meu cabelo farto, grosso e ondulado. Como então só se admitia o liso absoluto, eu acalentava um sonho: o secador de cabelos Arno que todas, todas as minhas amigas tinham.
Era um trambolhão de baixa potência. Fazia um barulho danado e vinha com um capuz de plástico munido de um tubo que se adaptava ao bocal do aparelho.Esquentava como o diabo. Levava umas três horas para o cabelo ficar seco sob a touca — se a orelha suportasse o calor — mas, com uma pilha de fotonovelas ao lado e a promessa do liso maravilhoso, quem se importava?
Meu pai não era um homem sensível para futilidades e feminilidades, tinha lá seus princípios pétreos. Ele equilibrava o orçamento familiar fazendo infindáveis horas extras com que pagava mensalidades de cinco bons colégios, material escolar de primeira, aulas de línguas e de música para as meninas. Vestido novo para festinha de aniversário e mesada para o cabeleireiro estavam fora de qualquer cogitação.
O fato é que até hoje não entendi a insistência de meus pais naquele passeio de sábado. Tenho certeza de que não havia uma surpresa programada porque perdi a conta de quantas vezes interroguei minha mãe. Ela sempre negou. O que sei mesmo é que fiquei num terrível emburramento, de cara feia, para deixar bem claro que nunca mais eles deveriam ter ideias ridículas.
Chegando ao centro, flanamos pra lá e pra cá procurando vitaminas para as crianças, um longplay de ópera, livros para os meninos. Eu estava morrendo de tédio. Perto da Praça da República, meus pais pararam para tomar um café. Enquanto aguardavam no balcão, saí andando pela calçada atraída pela vitrine de uma loja de eletrodomésticos e lá fiquei admirando o estojo cor-de-rosa em que se abrigava meu objeto de desejo.
“Por que você não compra o secador para ela?”, ouvi minha mãe atrás de mim.
“Vamos ver quanto custa”, respondeu meu pai.
Olhei incrédula para a imagem dos dois refletida no vidro. Poucos minutos mais tarde saíamos da loja
com um pacote desajeitado em direção ao ponto de ônibus.
Desemburrei, claro. Mas, em vez de eufórica e agradecida, estava constrangida. Consternada é uma palavra melhor. “Que foi?”, perguntou meu pai, “não ficou contente?” Devo ter encolhido os ombros procurando o que dizer. Decidi ser sincera.
“Por que ganhei esse presente afinal? Eu estava chata, aborrecida, desagradável, não merecia. Fiz de tudo para estragar o passeio e, no final, ganhei o secador que eu tanto queria!”
Meu pai sorriu. “Sabe o que quer dizer a palavra ‘escúpulo’?”. Era uma das manias que ele tinha que eu mais detestava: para toda palavra, uma origem histórica e um significado ancestral. Por que não ir diretamente ao ponto?
“Vem do latim. Quer dizer ‘pedrinha’. Escrúpulos são pedregulhos que a gente leva no sapato, no bolso, no coração e que atrapalham a caminhada e deixam a vida mais pesada. Jogue fora esses escrúpulos, não servem para nada. Se sua mãe achou que você deveria ganhar o secador, alguma razão ela tem.”
Entendi.
Cheguei em casa e joguei o último escrúpulo que eu tinha no lixo. Junto com meu diário.
E-mail para esta coluna:
cadernoela@oglobo.com.br
Eu fui uma adolescente bem chatinha. Sendo a mais velha de cinco filhos, cabia a mim enfrentar a linha-dura lá de casa. Como não havia muito espaço para grandes transgressões, usava todas as oportunidades para deixar bem claro aos meus pais que eu não era como eles, não pensava como eles nem teria a vida deles. Uma típica rebelde de classe média.
Naqueles dias meu comportamento variava das pequenas hostilidades às grandes contestações verbais cuidadosamente anotadas num diário mal escondido para que, se encontrado, minha mãe pudesse ler e se magoar à vontade. Coisa que aconteceu, claro, e fez rolar muitas lágrimas.
Voltando àquele sábado. Eu estava num desses estados insuportáveis que, entre mil e uma razões, diziam respeito à sanha com que tentava domar meu cabelo farto, grosso e ondulado. Como então só se admitia o liso absoluto, eu acalentava um sonho: o secador de cabelos Arno que todas, todas as minhas amigas tinham.
Era um trambolhão de baixa potência. Fazia um barulho danado e vinha com um capuz de plástico munido de um tubo que se adaptava ao bocal do aparelho.Esquentava como o diabo. Levava umas três horas para o cabelo ficar seco sob a touca — se a orelha suportasse o calor — mas, com uma pilha de fotonovelas ao lado e a promessa do liso maravilhoso, quem se importava?
Meu pai não era um homem sensível para futilidades e feminilidades, tinha lá seus princípios pétreos. Ele equilibrava o orçamento familiar fazendo infindáveis horas extras com que pagava mensalidades de cinco bons colégios, material escolar de primeira, aulas de línguas e de música para as meninas. Vestido novo para festinha de aniversário e mesada para o cabeleireiro estavam fora de qualquer cogitação.
O fato é que até hoje não entendi a insistência de meus pais naquele passeio de sábado. Tenho certeza de que não havia uma surpresa programada porque perdi a conta de quantas vezes interroguei minha mãe. Ela sempre negou. O que sei mesmo é que fiquei num terrível emburramento, de cara feia, para deixar bem claro que nunca mais eles deveriam ter ideias ridículas.
Chegando ao centro, flanamos pra lá e pra cá procurando vitaminas para as crianças, um longplay de ópera, livros para os meninos. Eu estava morrendo de tédio. Perto da Praça da República, meus pais pararam para tomar um café. Enquanto aguardavam no balcão, saí andando pela calçada atraída pela vitrine de uma loja de eletrodomésticos e lá fiquei admirando o estojo cor-de-rosa em que se abrigava meu objeto de desejo.
“Por que você não compra o secador para ela?”, ouvi minha mãe atrás de mim.
“Vamos ver quanto custa”, respondeu meu pai.
Olhei incrédula para a imagem dos dois refletida no vidro. Poucos minutos mais tarde saíamos da loja
com um pacote desajeitado em direção ao ponto de ônibus.
Desemburrei, claro. Mas, em vez de eufórica e agradecida, estava constrangida. Consternada é uma palavra melhor. “Que foi?”, perguntou meu pai, “não ficou contente?” Devo ter encolhido os ombros procurando o que dizer. Decidi ser sincera.
“Por que ganhei esse presente afinal? Eu estava chata, aborrecida, desagradável, não merecia. Fiz de tudo para estragar o passeio e, no final, ganhei o secador que eu tanto queria!”
Meu pai sorriu. “Sabe o que quer dizer a palavra ‘escúpulo’?”. Era uma das manias que ele tinha que eu mais detestava: para toda palavra, uma origem histórica e um significado ancestral. Por que não ir diretamente ao ponto?
“Vem do latim. Quer dizer ‘pedrinha’. Escrúpulos são pedregulhos que a gente leva no sapato, no bolso, no coração e que atrapalham a caminhada e deixam a vida mais pesada. Jogue fora esses escrúpulos, não servem para nada. Se sua mãe achou que você deveria ganhar o secador, alguma razão ela tem.”
Entendi.
Cheguei em casa e joguei o último escrúpulo que eu tinha no lixo. Junto com meu diário.
E-mail para esta coluna:
cadernoela@oglobo.com.br
O Globo/Ela
28/04/2012
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios
sábado abr 28, 2012
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2011), de Beto Brant e Renato Ciasca
Serão poucos aqueles que, hoje, irão discordar da afirmação de que Beto Brant é o mais talentoso cineasta brasileiro surgido desde a chamada “retomada”. A começar por sua estreia em longas-metragens, com Os Matadores, realizado em 1997, Brant conseguiu produzir com uma regularidade quase sem par entre nossos realizadores, construindo uma filmografia forte e coerente, de alguma forma passando ao largo das facilidades dos vícios autorais ou das concessões ao grande público.
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é seu sétimo filme, o quinto em parceria com o escritor Marçal Aquino e o segundo codirigido por Renato Ciasca (o primeiro sendo o delicado Cão Sem Dono). O trio assina o roteiro, adaptado do romance homônimo de Aquino, sua obra mais famosa.
Certeiramente, a versão cinematográfica vai ao cerne do livro, eliminando personagens secundários e substituindo o pano de fundo do garimpo pelo da exploração madeireira: Cauby (Gustavo Machado) é um fotógrafo que chega a uma cidade ribeirinha, no interior da Amazônia. Lá, envolve-se em uma paixão avassaladora com Lavínia (Camila Pitanga). Neste momento, Brant, habilmente, instaura o espectador na vida de seus dois personagens, relegando a segundo plano suas vidas pregressas. Ela é casada com Ernani (Zécarlos Machado), o pastor da cidade e, claramente, dita o ritmo simultaneamente incerto e imediato de seu caso com Cauby, que passa os dias aguardando-a em sua casa.
É, assim, tão mais vigoroso o longo e inesperado flashback que nos leva ao Rio de Janeiro, onde Lavínia cambaleia drogada e fora de si, pelas calçadas, até ser socorrida por Ernani; ele mesmo um homem recém-recuperado da morte abrupta de sua esposa, tendo encontrado, na religião, a força para prosseguir e mudar o rumo de sua vida. E é através de suas palavras que ele consegue tirar Lavínia da prostituição e, finalmente, encontrar uma parceira com quem possa viajar, oferecendo sua experiência e suas preces às comunidades carentes.
E é quando a narrativa volta à Amazônia que os tons premente e ameaçador da história passam a prevalecer e, só então, o espectador começa a ter dimensão da tragédia iminente (no romance já sabemos, de início, que a conclusão da história não será sem grandes custos aos personagens). E tal estranhamento se dá pelas oscilações da narrativa, sempre com sua força atrelada às inquietações emotivas e espirituais de Lavínia, estilhaçada entre dois homens apaixonados e propensos a tudo por sua companhia – e se o elenco está extraordinário, podemos destacar Camila Pitanga, no que consiste na melhor atuação de sua carreira.
Absorto nos personagens e no ambiente hostil que os cercam, Brant novamente lida com os liames entre as forças vitais cônscias dessas vidas e seus destinos inelutáveis; no entanto, aqui inserindo uma invulgar camada ascética a seus amores e motivações. Não obstante as várias cenas de sexo e, novamente, uma trama centrada no relacionamento entre um artista (Cauby, fotógrafo) e sua musa (Lavínia), a esses se sobrepõem, em uma instância, a moral de um homem cuja compaixão cristã parece trazer pouco além de tumulto e, antes, uma sufocante e extravagante paisagem, onde nela refletem-se os mistérios ameaçadores do porvir de seus habitantes: esse ambiente parece, crescentemente, ser a causa e a razão inescapáveis da fatalidade das vidas desses personagens. Cauby, Lavínia e Ernani encontram-se tão indefesos de suas próprias existências quanto a floresta, que é rápida e ilegalmente devastada.
O que antes era intimidade e introspecção (Cão Sem Dono, O Amor Segundo B. Schianberg), com a natureza fervorosa torna-se objeto de clamor público e desejos imperiosos. E assim, Brant realiza um fascinante (senão, e por isso, errático e dilatado) conto de seres traumatizados em situações extremas (amor, morte; ganância, generosidade) que, ao final delas, se encontrão renascidos e, de uma maneira ou de outra, com seus caminhos já percorridos.
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é, arriscadamente, atordoante, belo e vivo, como poucos lançamentos do ano, brasileiros ou não.
Bruno Cursini
http://www.revistainterludio.com.br/?p=3018
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2011), de Beto Brant e Renato Ciasca
Serão poucos aqueles que, hoje, irão discordar da afirmação de que Beto Brant é o mais talentoso cineasta brasileiro surgido desde a chamada “retomada”. A começar por sua estreia em longas-metragens, com Os Matadores, realizado em 1997, Brant conseguiu produzir com uma regularidade quase sem par entre nossos realizadores, construindo uma filmografia forte e coerente, de alguma forma passando ao largo das facilidades dos vícios autorais ou das concessões ao grande público.
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é seu sétimo filme, o quinto em parceria com o escritor Marçal Aquino e o segundo codirigido por Renato Ciasca (o primeiro sendo o delicado Cão Sem Dono). O trio assina o roteiro, adaptado do romance homônimo de Aquino, sua obra mais famosa.
Certeiramente, a versão cinematográfica vai ao cerne do livro, eliminando personagens secundários e substituindo o pano de fundo do garimpo pelo da exploração madeireira: Cauby (Gustavo Machado) é um fotógrafo que chega a uma cidade ribeirinha, no interior da Amazônia. Lá, envolve-se em uma paixão avassaladora com Lavínia (Camila Pitanga). Neste momento, Brant, habilmente, instaura o espectador na vida de seus dois personagens, relegando a segundo plano suas vidas pregressas. Ela é casada com Ernani (Zécarlos Machado), o pastor da cidade e, claramente, dita o ritmo simultaneamente incerto e imediato de seu caso com Cauby, que passa os dias aguardando-a em sua casa.
É, assim, tão mais vigoroso o longo e inesperado flashback que nos leva ao Rio de Janeiro, onde Lavínia cambaleia drogada e fora de si, pelas calçadas, até ser socorrida por Ernani; ele mesmo um homem recém-recuperado da morte abrupta de sua esposa, tendo encontrado, na religião, a força para prosseguir e mudar o rumo de sua vida. E é através de suas palavras que ele consegue tirar Lavínia da prostituição e, finalmente, encontrar uma parceira com quem possa viajar, oferecendo sua experiência e suas preces às comunidades carentes.
E é quando a narrativa volta à Amazônia que os tons premente e ameaçador da história passam a prevalecer e, só então, o espectador começa a ter dimensão da tragédia iminente (no romance já sabemos, de início, que a conclusão da história não será sem grandes custos aos personagens). E tal estranhamento se dá pelas oscilações da narrativa, sempre com sua força atrelada às inquietações emotivas e espirituais de Lavínia, estilhaçada entre dois homens apaixonados e propensos a tudo por sua companhia – e se o elenco está extraordinário, podemos destacar Camila Pitanga, no que consiste na melhor atuação de sua carreira.
Absorto nos personagens e no ambiente hostil que os cercam, Brant novamente lida com os liames entre as forças vitais cônscias dessas vidas e seus destinos inelutáveis; no entanto, aqui inserindo uma invulgar camada ascética a seus amores e motivações. Não obstante as várias cenas de sexo e, novamente, uma trama centrada no relacionamento entre um artista (Cauby, fotógrafo) e sua musa (Lavínia), a esses se sobrepõem, em uma instância, a moral de um homem cuja compaixão cristã parece trazer pouco além de tumulto e, antes, uma sufocante e extravagante paisagem, onde nela refletem-se os mistérios ameaçadores do porvir de seus habitantes: esse ambiente parece, crescentemente, ser a causa e a razão inescapáveis da fatalidade das vidas desses personagens. Cauby, Lavínia e Ernani encontram-se tão indefesos de suas próprias existências quanto a floresta, que é rápida e ilegalmente devastada.
O que antes era intimidade e introspecção (Cão Sem Dono, O Amor Segundo B. Schianberg), com a natureza fervorosa torna-se objeto de clamor público e desejos imperiosos. E assim, Brant realiza um fascinante (senão, e por isso, errático e dilatado) conto de seres traumatizados em situações extremas (amor, morte; ganância, generosidade) que, ao final delas, se encontrão renascidos e, de uma maneira ou de outra, com seus caminhos já percorridos.
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é, arriscadamente, atordoante, belo e vivo, como poucos lançamentos do ano, brasileiros ou não.
Bruno Cursini
http://www.revistainterludio.com.br/?p=3018
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Samba na Gamboa
Caetano Veloso e Thalma de Freitas
Diogo Nogueira canta e conversa com um dos maiores
representantes da Música Popular Brasileira
Diogo Nogueira recebe esses ilustres convidados para explicarem como o vírus do samba os contagiou. Num programa repleto de boas histórias, o que não falta são clássicos como É de manhã, Pé do meu Samba, Menino do Rio e Desde que o Samba é Samba.
Voltando um pouquinho no tempo, Caetano conta como foi seu primeiro contato com o samba. "Cresci tendo aquele samba de roda em todas as festas na minha casa. Era o samba do Recôncavo, muito antigo, e que já nascia com a terra. A gente aprendia a sambar desde pequeno, aquele jeitinho do Recôncavo, sem tirar o pé do chão. O samba fazia parte da educação doméstica", diz o tropicalista.
Como compositor, Caetano teve seu primeiro registro de samba com a música É de manhã. "Esse samba foi feito numa manhã de 1963. Eu era novinho. Ai a Betânia veio pro Rio e já gravou. Depois o Simonal e a Elizete Cardoso gravaram também", diz o cantor. "Foi seu primeiro sucesso no samba," completa Diogo.
De outra geração, Thalma de Freitas se apresenta como a "filha do maestro", e diz se orgulhar de ser uma artista negra brasileira. Filha do instrumentista, arranjador e compositor Laércio de Freitas, a cantora e atriz apresenta, entre outros sambas, "Não foi em vão", de sua autoria, e "La vem a baiana", de Dorival Caymmi.
Provocados pelo anfitrião Diogo Nogueira sobre onde teria nascido o samba, os músicos contam muitas histórias. Mas todas com o mesmo final, de que o samba teria nascido mesmo na Bahia. Para Caetano, "opinião forte e importante foi a de Vinícius de Moraes, que botou a letra em uma música O samba nasceu lá na Bahia. E ele era carioca", completa. Para finalizar, os três músicos dividem uma roda de samba cantando Desde que o samba é samba, de autoria do baiano Caetano Veloso.
Samba na Gamboa já está em sua terceira temporada, promovendo encontros entre artistas que, além de conversarem sobre música, têm a chance de soltar a voz ao vivo. O programa estreou na grade da TV Brasil em dezembro de 2008, com Marcelo D2 e Monarco comentado "causos" do samba de malandro e do trabalhador. Nomes como Walter Alfaiate, Moysés Marques, Moacyr Luz, Tia Surica, Dudu Nobre, Arlindo Cruz, Beth Carvalho, Mart"nália, Nelson Sargento, Martinho da Vila, Noca da Portela, Zé Katimba, Dona Ivone Lara, Dicró, Nilze Carvalho, João Bosco, Tantinho da Mangueira, Luiz Melodia, Roberta Sá, Alcione, Zeca Pagodinho, Jorge Ben Jor, Neguinho da Beija-Flor, também passaram por lá.
Nas Margens de Mim - O Teatro Mágico e Leoni
Eu me senti como um rei/ Me larguei, dormi, nas margens de mim/ Me perdi por querer, eu não fiz, não fui/ Me desaprendi/ Eu quis prestar atenção/ Tudo o que é menor, mais lento e baldio/ Deixo o rio passar/ tão voraz, veloz/ Me deixo ficar/ Quando o sol acena bate em mim/ Diz valer a pena ser assim/ Que no fundo é simples ser feliz/ Difícil é ser tão simples/ Difícil é ser tão simples/ Difícil mesmo é ser/ Me recolhi, fiquei só/ Até florescer/ Desapego e raiz, improviso e razão/ Canto pra colher, agora e aqui/ De qualquer maneira parte em mim/ Diz valer a pena ser assim/ Que no fundo é simples ser feliz/ Difícil é ser tão simples/ Difícil é ser tão simples/ Difícil mesmo é ser. (Teatro Mágico)
Porque há tantos nus na Arte?
publicado em artes e ideias por seven |
Amedeo Modigliani - Nu vermelho (1917).
A nudez sempre foi muito apreciada na Arte. É provável que tal facto fique a dever-se mais ao seu cariz sexual, eco distante da nossa natureza animal, do que a questões estéticas - a beleza. No entanto é inegável que as representações de nus proliferam na Pintura, na Escultura ou na Fotografia. Será que o corpo humano é intrinsecamente belo ou todos nós - artistas incluídos - somos voyeurs compulsivos?
A questão é complexa e foi já por várias vezes aqui abordada. A linha que demarca a arte erótica da pornografia é ténue e a nossa predisposição genética para achar belo o género que nos atrai sexualmente - homem ou mulher - acaba por nos toldar ainda mais o raciocínio e o sentimento. Não sabemos se o que realmente gostamos é da composição, da forma, da cor, do ritmo, do contraste, ou do(s) modelo(s) propriamente dito(s). As nossas reacções são então simultaneamente curiosas e reveladoras.
Quase sempre o senso comum tem uma de duas atitudes perante a representação do corpo humano nu: ou o condena, apodando-o de indecente, ou lhe confere o estatuto de Arte. Esta segunda posição é a que nos interessa; apenas na aparência é mais culta e com frequência mascara ignorância e o receio de a mostrar perante os outros.
Praxiteles - Afrodite de Cnido (séc. IV a. C.); Policleto - Doríforo (séc. V a. C.)
As primeiras representações de nus com uma finalidade estética surgiram na Grécia Antiga. É preciso relembrar a grande proximidade, para não dizer coincidência, entre aquilo a que então se chamava Arte e a Religião. A Mitologia grega era composta por figuras antropomórficas, seres perfeitos que o Homem tentava igualar. Esta busca pela perfeição levou à instituição de um verdadeiro culto do corpo de proporções ideais que as esculturas de Fídias, Praxíteles e outros artistas plasmaram no mármore e no bronze. Nunca, desde então, se assistiu a outra representação de um nu com estes propósitos tão "puros" - Arte verdadeira.
Não obstante o nu continuou a preencher uma quota importante das temáticas utilizadas pelos pintores, escultores e, mais recentemente, pelos fotógrafos com todas as implicações trazidas pelo realismo próprio da fotografia. A uns interessa-lhes o jogo formal proporcionado pelas linhas ondulantes dos corpos; a outros o significado.
Giorgione - Vénus adormecida (1510)
Nan Goldin - Joana Topless at the Chateau le Bastion (2000)
Porém há uma dimensão da obra de arte que se reveste de um carácter sensual na acepção original do termo, ou seja, a percepção e estimulação dos sentidos. Não há artista que se preze que não deseje fazer vibrar o seu público. E que melhor meio para isso, então, do que o corpo humano nu? Os artistas sabem-no bem, como sabem também que a Arte deve ter sexo... e nexo.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2008/01/porque_ha_tanto.html#ixzz1tGFUywpO
Minha resposta: Por que há muita arte no nú.
regina
Klimt e a eterna atração pelo feminino
publicado em artes e letras por carolina carmini
© Gustav Klimt, "Beethoven Frieze" (1901-02) , Belvedere, Viena.
Gustav Klimt viveu em Viena em um momento de efervescência. Durante o século XIX, a cidade se urbanizou; novas ideias a invadiam e atraiam intelectuais de diversas localidades. Um cenário intenso que permitiu muitas alterações no conhecimento científico, na sociedade e na arte. Antes de Klimt, a pintura praticada na cidade era provinciana e a maioria das obras eram retratos da elite vienense. O artista traz uma percepção do espirito humano, um estilo pictórico e decorativo, que vai influenciar o art nouveau. Suas obras são caracterizadas como pertencendo ao simbolismo, e dialogam com a arte japonesa e africana, o que resultou em uma pintura peculiar e muito própria.
© Gustav Klimt, "Palas Atena" (1898).
Foi nesse período que Klimt e mais dezoito artistas dissidentes da Associação dos Artistas Vienensesa criaram a Secessão Vienense, uma crítica à liberdade de criação tolhida pelas academias. Os membros da Secessão foram influenciados pelo movimento Arts and Crafts, da Inglaterra. O grupo buscava resgatar as qualidades do fazer artesanal contra a mecanização, integrando-o com a arte e arquitetura. O afresco Beethoven Frieze é um dos grandes exemplos desse período.
© Gustav Klimt, "As Três Idades da Mulher" (1905).
Ao deixar a Secessão, a obra de Klimt passou a ter um caráter mais pessoal. Assim, as mulheres tornaram-se o foco de atenção, uma verdadeira obsessão do pintor - que soube como retratá-las diante do novo século. Klimt utilizou-se das curvas femininas e do olhar evocativo das mulheres, sempre colocadas como figuras centrais, como verdadeiras armadilhas de sedução para o observador. A nudez é sempre crua, e as mulheres não são objetos passiveis para o prazer, mas para excitar com o seu próprio prazer. E o nu frontal, mostrando até mesmo os pelos pubianos, rompeu totalmente com o conservadorismo tanto da sociedade quanto das artes.
© Gustav Klimt, "Serpentes Aquáticas" (1904-1907).
A obra de Klimt possui um equilíbrio e um diálogo único entre o refinamento sensível e decorativo e a morbidez de sua figuras, que pendem para o simbolismo. Os ornamentos aparentam ser simbólicos em diversos momentos, criando ritmos nos elementos de cinzas e pérolas pálidos e dourado e prata vívidos. A ornamentação foi o caminho escolhido pelo artista para criar uma atmosfera de sonho, onde as figuras não estão ligadas a nenhum tempo ou local, repleta de alegorias que estimulam a imaginação.
© Gustav Klimt, "Fritza Riedler" (1906) , Belvedere, Viena.
© Gustav Klimt, "Frizo Stoclet - O abraço" (1905).
As joias, parte desta ornamentação, são de uma delicadeza e cuidado que atraem o olhar. Assim como as vestimentas. Em 2008, John Galliano apresentou em um desfile da Dior uma coleção totalmente inspirada nos vestidos usados pelas mulheres de Klimt em suas obras. O artista fez parte do Movimento pela Reforma do Vestuário, que pregava um novo tipo de vestimenta para as mulheres – assim como uma reforma nas regras de comportamento. Os vestidos tinham inspiração nas túnicas africanas de cortes largos e com tecidos de estampagem étnicos.
© Gustav Klimt, "Adele Bloch Bauer" (1907).
Outro elemento recorrente nas pinturas de Klimt são as ruivas. Influenciado pelos pré-rafaelitas, que popularizaram a imagem da mulher ruiva, nas obras do artista as madeixas vermelhas ganham o status de sedução e feminilidade.
© Gustav Klimt, "Danae" (1907-08).
Klimt realizou cerca de 3.000 desenhos eróticos, muitas vezes com cenas de sexo explícito – a maioria publicada após a sua morte. Além dos desenhos, muitas de suas pinturas trazem uma carga de intenso erotismo. O ato sexual é revisto através dos personagens clássicos da mitologia grega. A vida também é vista através da passagem do tempo e do sexo. Outra questão explorada por Klimt é o amor entre as mulheres, como na obra As Amigas. E quando o homem se faz presente nas pinturas, é como voyeur ou como complemento.
© Gustav Klimt, "Danae" (1907-08).
© Gustav Klimt, "O Beijo" (1908), Belvedere, Viena.
Klimt sentia-se atraído pela mitologia, principalmente pelas sereias – que eram vistas pelo artista como um símbolo ambíguo da feminilidade e perversidade da mulher. Em Água Agitada, as sereias são mulheres de extrema sensualidade, com seus corpos nus de formas sinuosas como se acompanhassem o movimento da água. Um verdadeiro simbolismo erótico. Muitas das mulheres retratadas pelo artista possuem corpos de uma incrível leveza, como se estivessem flutuando no ar ou na água, sem direção ou orientação.
© Gustav Klimt, "Água Agitada" (1898), Private Collection, Galeria St. Etienne, Nova Iorque.
Já em Judith I, o artista traz uma inovadora versão do mito. Ícone da mulher fatal capaz de submeter qualquer homem aos seus desejos, na obra de Klimt ela aparece sem disfarçar o prazer da dominação – como um prazer sexual - ao segurar a cabeça do general assírio por cuja morte foi responsável. Repleta de ouro – com um fundo em que Klimt buscou reproduzir os relevos assírios do palácio de Nínive – Judith aparece com a roupa transparente e os seios nus. Seus cabelos negros contrastam com os trabalhos em dourados. Uma feminilidade agressiva, onde a mulher tem o pleno poder, mas ainda é repleta de sensualidade.
© Gustav Klimt, "Judith" (1901), Belvedere, Viena.
No final da vida, Klimt abandonou o dourados e as cores fortes e passou a utilizar os tons pastel. Uma viagem à França também fez com que se encantasse pelo impressionismo e com isso alterasse suas pinceladas. Mas seu olhar permaneceu eternamente atraído pelas mulheres.
© Gustav Klimt, "Mäda Primavesi" (1912-13), Belvedere, Viena.
© Gustav Klimt, "Família" (1912-13), Belvedere, Viena.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/04/klimt_e_a_eterna_atracao_pelo_feminino.html#ixzz1tGCofeX5
TOLERÂNCIA ZERO
Quando a boca cala.... o corpo fala!!!
Este alerta está colocado na porta de um espaço terapêutico.
O resfriado escorre quando o corpo não chora.
A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições.
O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.
O diabetes invade quando a solidão dói.
O corpo engorda quando a insatisfação aperta.
A dor de cabeça deprime quando as duvidas aumentam.
O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.
A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.
As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.
O peito aperta quando o orgulho escraviza.
A pressão sobe quando o medo aprisiona.
As neuroses paralisam quando a criança interna tiraniza.
A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.
Muniz Sodré de Araújo Cabral -Doutor em Comunicação
O professor doutor e hoje Obá de Xangô
Por Carolina Carvalho em 24/04/2012 na edição
691
Reproduzido do ECOS Online
Talvez seja sua modéstia – mesmo sendo um dos maiores nomes da comunicação na América Latina. Ou ainda o jeito descontraído com que caminha pelos corredores da Eco. O fato é que o carinho de alunos e professores pelo baiano Muniz Sodré de Araújo Cabral vai muito além de seus títulos. “Sou absolutamente grata a ele”, afirmou a professora Cristiane Costa, com um sorriso largo estampado no rosto. Como outros colegas da UFRJ, ela foi aluna de Muniz Sodré na graduação, além de ter sido sua orientanda no mestrado e no doutorado. “Devo muito a ele, desde aprender a escrever para jornal até ter meus trabalhos acadêmicos publicados”, emendou.
Muniz Sodré é um sujeito alto e de cavanhaque alinhado que se define como um “negro moderno”. Aos 70 anos, os cabelos pretos e espessos começam a aparecer num tom mais grisalho. Ele nasceu em São Gonçalo dos Campos, uma cidade no interior da Bahia que hoje tem pouco mais de 30 mil habitantes. Carrega no currículo mais de 40 livros publicados, além de quase uma centena de artigos científicos. É um dos poucos pesquisadores brasileiros da área que tem circulação e respeitabilidade internacional.
Como professor, sempre tentou extrair o melhor dos alunos. Segundo Cristiane, que hoje ministra técnica de reportagem, a mesma disciplina que cursou com Sodré na UFF, ele é duro em sala de aula – ou pelo menos era, no início dos anos 80. “Quando o lead ficava horrível, ele dizia”, contou a professora, numa sala repleta de alunos que aguardavam para se sentar junto a ela e discutir seus textos. “Não bastava o lead responder às perguntas básicas. Ele tinha que estar ‘sensual’”, lembrou, num tom carinhoso.
O quarto bios
Em uma tarde recente, sentando em uma carteira no corredor da Eco, Muniz garantiu que não é rígido como professor, mas analisa as produções dos alunos com apuro. “Quero que eles escrevam”, reforçou, com seu tom de voz levemente rouco. “Quero o vernáculo ali, quero criatividade, mas não sou rígido gramaticalmente.” Os estudantes não precisam se sentir intimidados, pois ele analisa até os próprios escritos. “Eu olho um texto meu e digo ‘Rapaz, você com essa idade toda escreve mal, como é que pode?’”
Gustavo Barreto é doutorando em Comunicação e Cultura e teve aulas com Sodré, a quem deve parte de sua pesquisa. Ele atribui a contextualização de seu trabalho a quatro pensadores e um deles é o professor da Eco. “A ideia que mais me influenciou é a do quarto bios, grande marco da teoria dele”, explicou, sentado em uma sala de um núcleo de pesquisa da Escola. “Em toda a minha graduação eu li e citei Muniz Sodré.”
O conceito de quarto bios foi apresentado pelo professor no livro Antropológica do Espelho, publicado em 2002 pela editora Vozes. Em linhas gerais, é um complemento aos três ambientes filosóficos citados por Aristóteles – o conhecimento, o prazer e a política. Sodré coloca a mídia como o quarto bios, tratando-a como uma forma de vida, e não apenas um meio de transmitir informações.
Pulso firme
A trajetória de Muniz na Eco vem desde a criação da instituição. Após um decreto do presidente Castelo Branco, em 1967, que criava nas universidades as escolas de comunicação, José Carlos Lisboa, professor da escola de Letras, fundou e se tornou o primeiro diretor da Escola de Comunicação da UFRJ. Localizada ao lado de uma delegacia policial na Praça da Bandeira, entre o Centro e a Tijuca, a instituição já foi inaugurada em condições precárias. “Dando aula, a gente ouvia gritos de presos apanhando”, rememorou Sodré. Lisboa recrutou vários jornalistas e intelectuais interessados na área para impulsionar o novo estabelecimento. No grupo, estavam nomes como Danton Jobim, Luiz Costa Lima, Francisco Antônio Dória e, claro, Muniz Sodré, recém-chegado de um mestrado em Sociologia da Informação e da Comunicação em Paris. O professor teve papel fundamental no início do curso. “Os primeiros currículos são todos montados por mim”, disse, orgulhoso.
José Carlos Lisboa foi sucedido pelo jornalista José Simeão Leal, criador da pós-graduação da Eco, com a ajuda do filósofo Emmanuel Carneiro Leão. Juntos, conseguiram também a transferência da faculdade para a Praia Vermelha, onde está até hoje. “Isso aqui não tinha nada”, lembrou Sodré. “Não tinha equipamento nenhum, mas havia um ambiente intelectual interessante.” Em tempos de ameaça de realocação do curso para o Fundão, ele defende a manutenção da escola na Urca. “Nossa história está nessas paredes”, sustentou.
Entre 1986 e 1990, Muniz Sodré dirigiu a Eco. Nessa época, um dos estudantes era Cláudio Besserman Vianna, o falecido Bussunda. O ex-diretor, que considera ter sido “durão” em seu mandato, foi intransigente com o uso de maconha, mas sem recorrer à polícia. “Eu disse que jogaria na piscina quem estivesse vendendo maconha aqui dentro”, contou, com uma risada. Bussunda e outros alunos se divertiam às custas do pulso firme de Muniz, inventando para ele apelidos como “o fodão da Praia Vermelha” e pregando charges cômicas no mural de avisos.
“Já me aposentei, mas não vou parar”
Quase quatro décadas após chegar à Eco, o professor assumiu a presidência da Fundação da Biblioteca Nacional, a pedidos do então ministro da Cultura, Gilberto Gil. A instituição estava passando por uma crise. Sodré digitalizou os mapas, investiu na conservação dos documentos e na restauração de títulos do acervo e trabalhou pela instalação de quase duas mil bibliotecas municipais pelo Brasil. Ele avalia sua gestão como bem-sucedida, mas não voltaria a ocupar o cargo por causa da burocracia de prestação de contas. “É um péssimo negócio ser gestor público”, queixou-se. “Não quero nunca mais uma carga dessas.”
Engana-se, no entanto, quem pensa que os títulos acadêmicos são as conquistas mais valiosas para o professor. A posição que ostenta com mais orgulho é a de Obá de Xangô no terreiro Axé Opô Afonjá, uma das três casas matrizes do candomblé na Bahia. Jorge Amado e Dorival Caymmi ocuparam o mesmo posto, pertencente hoje também a Gil. A denominação é concedida a um corpo de trinta e seis pessoas encarregadas de cultuar o orixá Xangô e mediar a relação entre o terreiro e a sociedade. “Vejo a possibilidade de sair dali uma filosofia genuinamente brasileira. Estudei filosofia estrangeira, mas isso só serve na medida em que eu possa pensar o Brasil”, destacou.
De olho na celebração de seus 70 anos, comemorados em janeiro, a Eco sediará neste ano uma série de homenagens ao professor. A partir deste mês, o Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária, o Lecc, abrirá rodas de debate sobre suas principais obras. No final de abril, acontecerá a “Semana Muniz Sodré”, um seminário internacional que trará à escola intelectuais como Cícero Sandroni, Alberto Dines, e Henri-Pierre Jeudy. A organização do evento é assinada por Raquel Paiva, coordenadora do Lecc e esposa de Muniz. Desde seu aniversário, de acordo com as leis que regulam o funcionalismo público, Muniz entrou na aposentadoria compulsória. Mas ele já disse que não vai arredar pé da sala de aula. “Eu me aposentei, mas já pedi minha emerência. Não vou parar, quero continuar dando aulas. Vou fazer como o Márcio Amaral, que é um dos melhores professores desta escola”, resumiu.
[Carolina Carvalho é estudante de Comunicação]
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