A canção é forte – “Love is strong”, dos Rolling Stones, e os anos 1990
Your love is strong and you’re so sweet
You make me hard, you make me weak
Love is strong and you’re so sweet
And some day, baby, we’ve got to meet
A glimpse of you was all it took
A stranger’s glance, it got me hooked
And I follow you across the stars
I look for you in seedy bars
What are you scared of, baby?
It’s more than just a dream
I need some time
We make a beautiful team
Well love is strong and you’re so sweet
And some day, baby, we’ve got to meet
Just anywhere, out in the park
Out on the street, out in the dark
And I follow you through swirling seas
Down darkened woods with silent trees
Your love is strong and you're so sweet
You make me hard, you make me weak
I wait for you until the dawn
My mind is ripped, my heart is torn
Your love is strong and you’re so sweet
Your love is bitter taken neat
Yeah, love is strong, yeah
Yeah, all right
Love is strong, yeah
Oh yeah, you’re so sweet
Love is strong… we’ve got to meet
Oh yeah, oh yeah
Love is strong… oh yeah
You make me hard, you make me weak
Love is strong and you’re so sweet
And some day, baby, we’ve got to meet
A glimpse of you was all it took
A stranger’s glance, it got me hooked
And I follow you across the stars
I look for you in seedy bars
What are you scared of, baby?
It’s more than just a dream
I need some time
We make a beautiful team
Well love is strong and you’re so sweet
And some day, baby, we’ve got to meet
Just anywhere, out in the park
Out on the street, out in the dark
And I follow you through swirling seas
Down darkened woods with silent trees
Your love is strong and you're so sweet
You make me hard, you make me weak
I wait for you until the dawn
My mind is ripped, my heart is torn
Your love is strong and you’re so sweet
Your love is bitter taken neat
Yeah, love is strong, yeah
Yeah, all right
Love is strong, yeah
Oh yeah, you’re so sweet
Love is strong… we’ve got to meet
Oh yeah, oh yeah
Love is strong… oh yeah
A década de 1990 representou um amargo fim de linha para a cultura de liberação e protesto forjada pelas gerações de jovens dos anos 1960. John Lennon havia sido assassinado há dez anos; há vinte anos, Jimi Hendrix (1970), tanto como Janis Joplin (1971), teve uma overdose de drogas; Jim Morrison (1971) e Brian Jones (1969) haviam sido encontrados mortos, o primeiro também por overdose. Mesmo assim, num período difícil, de inconsistência e estagnação em termos de cultura e tantas outras esferas da vida, os Rolling Stones continuavam firmes, produzindo música consistente, provocativa e vigorosa.
Foi justamente nesse período que eles – os Stones – realizavam, em termos de sonoridade, uma retomada das fórmulas da década de 1970, notadamente do disco Sticky Fingers (1971) – que teve capa de Andy Warhol, presença de Mick Taylor, e que consolida uma segunda fase da banda, em que ela produziu algumas de suas maiores canções, como “Sway”, “Sister Morphine” e “Wild Horses”. Além disso, deixava de ser apenas uma das maiores bandas de rock do planeta para se tornar, como tudo o que sobreviveu aos anos 1990, uma das maiores “marcas de sucesso” do main stream “cultural” – a indústria do entretenimento.
Foi na turnê do disco Voodoo Lounge (1994), que os Stones se tornaram realmente grandes na habilidade de gerir a banda e fazer os seus mega-shows – que vinham transcorrendo, em termos de aparatos de palco e elementos de cena do pop, desde os anos 1980. Passaram a encaminhar a coisa para muito além da música e com grande profissionalismo empresarial, a ponto não só de dominar o universo dos palcos, mas também de influenciar e interagir de modo jamais visto com o meio midiático do show business globalizado.
Voodoo Lounge é a grande consequência dessa virada da banda. O álbum retoma o formato bem “controlado” pelos Stones, com o seu estilo “clássico” e característico, reforçando ainda mais a afirmação de sua música como traço (e selo) inconfundível. “Love is strong”, a faixa de abertura do disco, e seu vídeo-clip são, deste modo, amostra de potência e, ao mesmo tempo, um bom arroubo de autoconsciência dos músicos e do produtor Don Was em relação a essa nova fase.
O clip é bem despojado. Ele integra e reproduz a canção em todas as suas dimensões – imagem, música, palavra – repetindo em riffs visuais a movimentação criada pela dinâmica da letra, que se conduz, por sua vez, pelo pulsar do quarteto de músicos, este sempre preocupado em manter firme o peso e a inflexão blues como base para a encenação.
A hipérbole despojada é o motivo que se desdobra por todo o vídeo para desenvolvê-lo e criar seu universo próprio. O cenário, seguindo esse princípio, projeta uma linguagem arquitetônica art déco sobre a metrópole – para obscurecê-la. A cidade é retratada em seus aspectos geométricos – linhas retas, cubos, ângulos agudos, superfícies chapadas contrastadas por diversos planos – que são, por sua vez, erguidos à dimensão dos arranha-céus.
Novamente o motivo se repete ao se desdobrar sobre as figuras humanas que estão em cena. Os músicos e as musas – a quem se destina a canção de amor –, incorporadas por tipos femininos típicos do mundo da moda e do dos paparazzi, como as mulheres de La dolce vita, estão em tamanho gigante, fazendo referência tanto à vontade de exagero e disparate evocada pelo rock’n’roll, quanto ao universo pop de King Kong e do cinema comercial.
A atmosfera criada pelo clip reúne símbolos e images/stories ligados ao truque, à produção de efeitos e à sedução. Por um lado é sexy, recorta certa sensualidade dos músicos e, sobretudo, de Jagger manipulando os clichês, tão originalmente trabalhados por ele, do rock star enquanto símbolo sexual. As modelos, enfim, arrematam esse clima de sedução, gesticulando e contracenando sobretudo com a letra, quando, ao serem hiperbolizadas, acabam por dar caráter ao amor, que, aqui, é forte, vigoroso, grande.
Por outro lado, tudo é fake, tudo é truque. A fumaça, o reflexo nos vidros das janelas, o cenário artificial, os efeitos de câmera para fazer as personagens parecerem gigantes. Há a palavra dealer (traficante e negociante). Ela remete não só ao mundo das drogas, mas ao caráter de produto que a banda está assumindo para si nesse momento. Daí pode-se falar em autoconsciência e talvez em autocrítica cínica.
É importante notar que, mesmo com toda essa enorme carga de informação histórica e estética, a música dos Rolling Stones, em contraste com o álbum anterior a Voodoo Lounge, Steel Wheels, recobrava o melhor de seu vigor. São retomadas nesse trabalho as ideias melódicas figuradas no limite entre o blues e o rock, as influências, tanto em termos de comportamento, quanto em termos de musicalidade, trazidas pelos Stones do fraseado e das ladainhas de Muddy Waters e Chuck Berry; tudo recontextualizado pela distorção e pela postura performática inovadora da banda.
Nesse álbum de 1994, fica bem evidente o estilo agressivo e direto: o pulso firme e pesado do diálogo entre as guitarras de Ronnie Wood e Keith Richards, ao estilo rock/blues ao qual este último guitarrista contribuiu fortemente para a sua construção; A bateria de Charlie Watts, menos virtuosística do que, por exemplo, a de John Bonham (Led Zeppelin), porém mais pensante e reflexiva em relação à melodia tocada (como um baterista de formação jazzística, Watts aplica, à sua maneira, essa linguagem ao universo do rock e, assim, o transforma); A criatividade de Mick Jagger, que além de cantar de forma mais do que original, escandindo as palavras de modo inusitado e extremamente técnico, executa solos de harmônica – deslocando esse timbre tão característico do blues de seu contexto original e atribuindo-lhe novos sentidos. Ele é “o” front man.
“Love is strong” é constituída em imagem por seu vídeo-clip a partir da mesma lógica que organiza seus versos, por meio de uma estruturação paratática – não linear, não discursiva, mas que é (por somatória de images/stories e estruturas, por acúmulos, embora isso possa soar paradoxal) muito poética, nos reconduzindo à sua tradição: a lírica de amor e a canção enquanto gênero. Não é exatamente música, pois precisa da palavra para se organizar, mas não é exatamente poesia, pois precisa de uma melodia para se expressar por completo.
Nesse gênero híbrido, os Stones dão à sua peça um tratamento contemporâneo e orgânico. Trata-se de uma canção de amor. Há um eu que canta, pretensamente apaixonado, para a sua amante. Entretanto, o tópos é trabalhado de maneira inusitada. Os amantes não formam um casal ideal, mas a beautiful team, um belo time, uma bela equipe. A paixão não é figurada por images/stories desgastadas ou decantadas do galanteio ou do desejo, como flores, fogo ou morte, mas é representada pela sua força – “love is strong” –, pela agressividade com que age sobre o eu – “You make me hard, you make me weak” –, pelo exagero, como já dito, do tamanho das personagens e pela potência do som que envolve as palavras.
Fica bastante clara a capacidade dos Rolling Stones de se manter a todo vapor – mesmo durante os anos 1990 –, se os compararmos, no ano de 1994 por exemplo, a outros paradigmas da canção ocidental, como Caetano Veloso, que lançava então Fina estampa, um disco bastante morno e sobretudo conformado em relação a sua obra como um todo e ao universo da indústria cultural.
Seja em forma de letra, de imagem ou de som, a canção “Love is strong” impressiona por sua força e simplicidade ao fazer, realmente, sentido enquanto obra, e realizar a constante manutenção de sua atualidade. Os Rolling Stones figuram, incrivelmente, entre os artistas da geração poética e musical da segunda metade do século XX que ainda têm o poder de mobilizar enormes turbas, bem como gigantescas quantidades de dinheiro por todo o mundo. Faz parte da estética do rock ser milionário, como disse Jagger certa feita.
São, assim, a imagem hiperbólica de sua própria música e a representação política do poder estético da canção popular somada às guitarras de rock, que caracterizam essa forte tradição na língua inglesa.
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